Na Trilha: Retrospectiva 2015 – Parte 1


As Melhores Trilhas Sonoras de 2015

Serei sincero: uma das coisas de que menos gosto, mas que são extremamente populares nos meses de dezembro e janeiro, são as infames listas de “melhores do ano”. Por toda a internet, costumam pipocar listas de melhores para filmes, séries, livros, quadrinhos, games e… trilhas sonoras. Afinal, todo reviewer tem seus scores preferidos do ano, porém, justamente por causa de minha resistência com tais posts, me abstive de compilar as minhas preferidas dos anos anteriores. Este ano, porém, decidi reverter essa tendência pois, goste eu ou não, as listas podem ser também divertidos exercícios de comparação de gostos e de troca de experiências. Uma pessoa pode ter escutado uma trilha (ou lido um livro, assistido um filme, etc.) que a outra não conhece, e por aí vai.

De toda forma, 2015 ainda foi um ótimo ano para nós, amantes de film scores. Compositores como Ennio Morricone, John Williams e James Horner “ressurgiram” no mainstream justamente em suas especialidades (respectivamente, um western, um novo Star Wars e um drama épico de grande escala) e entregaram trabalhos nada menos que brilhantes. Além disso, os veteranos Michael Giacchino e Thomas Newman também tiveram anos inspirados, que podem ser coroados com indicações ao Oscar – pelo menos, eles tem a minha torcida. Músicos extremamente talentosos como Joe Kraemer e Daniel Pemberton podem, finalmente, entrar no universo hollywoodiano, ao passo em que os dois líderes da “invasão espanhola”, Fernando Velázquez e Roque Baños, continuam caminhando a passos largos para mostrar que seu país ainda é um celeiro de ótimos compositores. O escocês Patrick Doyle fez um retorno em grande estilo após alguns anos de trabalhos menores, enquanto os inconstantes Craig Armstrong e Christophe Beck responderam pelas surpresas do ano. Enquanto isso, após viverem no mundo dos blockbusters nos últimos anos, Howard Shore e Brian Tyler se ocuparam com dramas menores e mais intimistas, com resultados de boa qualidade.

Porém, se você for do tipo saudosista, que prefere os grandes scores do passado, também não pode reclamar do que 2015 teve a oferecer. Trilhas clássicas como (respire fundo) Coração Valente (Braveheart, 1995), Dança com Lobos (Dances with Wolves, 1990), A.I.: Inteligência Artificial (A.I., 2001), O Vingador do Futuro (Total Recall, 1990), A Ratinha Valente (The Secret of the NIMH, 1982), Hook: A Volta do Capitão Gancho (Hook, 1991), Horror em Amityville (The Amityville Horror, 1979), e Tubarão (Jaws, 1975), bem como sua continuação, foram lançados em pacotes de alta qualidade, contendo, pela primeira vez, todo o score, além de interessantes e informativas notas no encarte. Para os completistas de Williams, Horner, Goldsmith e Barry que, como eu, gostam de ouvir cada nota gravada, foi um ótimo ano. Além disso, a excelente Legacy Collection continua trazendo as aguardadas versões expandidas das trilhas dos clássicos animados da Disney, enquanto raridades como Gremlins 2: A Nova Geração (Gremlins 2: The New Batch, 1990), Encurralado (Duel, 1971) e um box de nada menos que 12 discos da trilha da série sessentista Perdidos no Espaço fizeram os fãs contarem cada centavo – ou garimparem a internet à procura de downloads.

Nem tudo, porém, foram flores. O ano de 2015 ficará marcado como aquele em que perdemos James Horner, um dos mais amados compositores da sua geração, deixando órfãos milhões de fãs em todo o planeta. Sua trágica morte foi dolorosa, e certamente deixou o mundo da música um pouco mais triste. Por outro lado, o carinho universal que seu acidente inspirou foi genuinamente tocante, seja entre nós, meros mortais que apreciamos trilhas de qualidade, seja entre pessoas do calibre de Ron Howard, Mel Gibson, James Cameron e muitos mais – todos agradecidos a Horner que, com sua música, ajudou a engrandecer os longas destes cineastas.

Enfim, após essa recapitulação, passemos ao tema do post. Apenas lembrando que a lista abaixo é pessoal e reflete o que eu considero que foram as melhores trilhas compostas em 2015, e que este é apenas o primeiro de outros posts relembrando o ano que passou na Música de Cinema. Farei também a já tradicional lista das ScoreTracks do ano, e um post com as melhores surpresas de 2015.

Sem mais delongas, eis as 10 melhores trilhas do ano que se passou (clique no link para acessar a resenha original, quando disponível):

mi_5_CD10 – Missão Impossível: Nação Secreta – Joe Kraemer

O compositor Joe Kraemer passou anos preso a um ciclo bizarro, no qual ele caía no ostracismo apenas para ser resgatado pelo roteirista e diretor Christopher McQuarrie. Para sua sorte, o novo longa de McQuarrie não era nada menos que Missão Impossível: Nação Secreta (Mission Impossible: Rogue Nation, 2015), quinta parte da longeva franquia de espionagem estrelada por Tom Cruise. Kraemer não decepcionou: seu score puramente orquestral contrastava momentos bombásticos e explosivos (The A400 e Moroccan Pursuit) com outros em que a tensão não caía por momento algum (The Torus), tudo isso cercado em meio ao charme típico das trilhas de espionagem, que, aliás, tiveram um grande ano em 2015. Mas era na aplicação dos temas que Kraemer brilhou: seja ao reaproveitar e desconstruir o tema principal e o tema do complô (minha deprimente tradução para The Plot) compostos por Lalo Schifrin para a série original, seja ao utilizar a ária Nessun Dorma de Puccini como tema da femme fatale Ilsa Faust, ou mesmo contribuindo para a franquia com um tema brilhante para o vilanesco Sindicato, que rendeu ao menos uma suíte para concerto espetacular (Solomon Lane), tudo isso mostra que Kraemer é um compositor inteligente e extremamente talentoso, que merece mais chances em Hollywood. E, com McQuarrie já confirmado na direção do sexto capítulo da franquia, só posso imaginar que agora, finalmente, a carreira de Kraemer vai decolar como o avião em que Cruise se pendura numa das cenas mais memoráveis do longa.

O grande momento: Solomon Lane é, claro, uma das faixas do ano, mas também é uma suíte para concerto. Assim, considerando a trilha como ouvida no filme, destaco os momentos com Ilsa e Ethan, em que Kraemer combina os temas de ambos (mesmo não sendo de sua autoria) para formar um bonito love theme, vide faixas no disco como A Matter of Going e Finale And Curtain Call.

cinderella_2015_CD9 – Cinderela – Patrick Doyle

A carreira do escocês Patrick Doyle é quase um espelho da de seu principal colaborador (e amigo), Kenneth Branagh: eles brilharam durante as décadas de 1990 e 2000, em longas de época, com um sabor da Grã Bretanha, como adaptações de Shakespeare, Jane Austen e Dickens, levando, eventualmente, à indicações ao Oscar e aos blockbusters hollywoodianos. Porém, nos últimos anos, Doyle e Branagh pareciam dois peixes fora d’água em projetos que nem de longe eram suas especialidades, como a aventura Thor (idem, 2011) e o thriller Operação Sombra: Jack Ryan (Jack Ryan: Shadow Recruit, 2014). Felizmente, Cinderela (Cinderella, 2015), nova adaptação em live action de um conto de fadas pela Disney, marcou o retorno de ambos ao gênero em que dominam. No caso de Doyle, isso representou seu melhor score em quase uma década, repleto de belos temas, romance, ligeiros toques melancólicos para a vida difícil de Cinderela com sua madrasta, e um motivo deliciosamente heroico para o Príncipe Encantado da trama. Além disso, as valsas e polcas que ele escreveu antes mesmo do longa ser gravado para acompanhar o grande baile também merecem destaque. Tudo isso sem esquecer a ótima performance da lendária London Symphony Orchestra que, subaproveitada em trabalhos anteriores do compositor, aqui tem sua oportunidade de brilhar. Assim, é uma pena que o longa tenha saído em março, quase um ano antes do início da temporada de premiações, senão Doyle poderia surgir como uma séria ameaça.

O grande momento: Acompanhando uma sequência com cavalos que culmina no primeiro encontro entre Cinderela e o Príncipe, The Stag traz ação, emoção e heroísmo como dificilmente se vê hoje em dia – um feito e tanto para um filme de romance, em meio à tantos blockbusters de ação hoje em dia.

Far_From_Madding_Crowd_CD8 – Longe Deste Insensato Mundo – Craig Armstrong

Poucos viram o filme, e talvez menos ainda tenham ouvido essa ótima trilha, certamente uma das melhores surpresas do ano, ainda mais considerando suas origens. O diretor do longa, Thomas Vinterberg, foi um dos fundadores do Dogma 95, movimento cinematográfico que pregava, entre outras coisas, que os filmes não deveriam ter trilhas originais, enquanto seu compositor, Craig Armstrong, é mais conhecido por suas colaborações com Oliver Stone e pela aventura O Incrível Hulk (The Incredible Hulk, 2008). Felizmente, esperemos que isto mude com Longe Deste Insensato Mundo (Far from the Madding Crowd, 2015), um score que, para desespero dos colegas dinamarqueses de Vinterberg e fãs do Dogma 95, é expressivamente romântico e dramático, com um toque da música de compositores como Ralph Vaughn-Williams, por exemplo. O destaque, claro, vai para os belos solos de violino que permeiam a partitura, remetendo a trabalhos como a indicada ao Oscar A Vila (The Village, 2004), de James Newton Howard. Quem aprecia grandes scores românticos de compositores como Rachel Portman, John Barry e James Horner, assim como os fãs de música pastoral, bucólica e campestre, certamente ficará satisfeito com o trabalho de Armstrong.

O grande momento: Faixas como Corn Exchange, Spring Sheep Dip e Time Moves On, retratando a bucólica vida no interior da Inglaterra no século XIX, são tocantes como poucas coisas que ouvi esse ano. Mas o maior destaque vai mesmo para a espetacular Opening, com sua maravilhosa melodia para violino solo, acompanhada da orquestra (regida pelo próprio compositor). Emocionante.

bridge_spies_CD7 – Ponte dos Espiões – Thomas Newman

Em 2015, Thomas Newman enfrentou o que pode ser considerado o maior desafio de sua carreira até então: substituir ninguém menos que John Williams num filme de Steven Spielberg. Certamente, ele deve ter sentido a pressão, afinal, a colaboração entre o diretor de E.T.: O Extraterrestre (E.T.: The Extraterrestrial, 1982) e seu compositor produziu algumas das maiores trilhas sonoras já ouvidas na história do cinema. Newman, porém, respondeu ao desafio não emulando Williams, mas sim da forma mais sensata possível: sendo ele mesmo. No longa, a música acompanha principalmente o clima de tensão cada vez maior durante a Guerra Fria, com trompas representando o lado americano e coros eslávicos para os soviéticos e alemães do leste. Entretanto, Newman não se esqueceu do lado humano da partitura, ao entregar um tema para o advogado James Donovan (Tom Hanks) e um tocante motivo para a amizade entre o protagonista e o espião soviético Rudolf Abel (Mark Rylance), muito reminiscente de seus excelentes scores dramáticos durante os anos 1990. Entretanto, no geral, é uma trilha curta: são pouco menos de cinquenta minutos de música para um longa de quase duas horas e vinte de duração, o que resulta em longos momentos sem a trilha de Newman, e, assim, faz os momentos em que ela aparece ainda mais eficientes. Como o final do filme, por exemplo: as últimas (e longas) três faixas perpassam o tenso clímax do longa, bem como seu final feliz e tipicamente “spielberguiano”. Não sei como a trilha se sairia se fosse composta por Williams (imagino que algo na linha de Munique, com toques de O Patriota e O Resgate do Soldado Ryan) mas Newman fez jus ao desafio, e certamente deixou seu mestre orgulhoso.

O grande momento: Glienicke Bridge, o cue que ele escreveu para a climática sequência da troca de prisioneiros entre EUA e a União Soviética, é uma aula de descrição musical: tenso, melancólico, nervoso, e com um final catártico. Em seguida, Homecoming e End Title finalizam de forma perfeita o filme e a trilha.

paper_planes_CD6 – Aviãozinho de Papel – Nigel Westlake

Lançado originalmente nos cinemas australianos em 2014, Aviãozinho de Papel (Paper Planes, 2014) não parecia ser o tipo de filme que inspira grandes trilhas, de tal forma que só fui ouvi-la em setembro, quase um ano após sua estreia: ele conta a história de um menino de 12 anos, apaixonado por aviação, e que quer participar de uma competição de aviões de papel no Japão (imagino que seja um esporte bem popular por lá), mas que, ao mesmo tempo, tem uma relação complicada com seu pai. Enfim, um típico longa destinado a ser exibido na Sessão da Tarde da TV Globo, e passado em branco pelos cinéfilos, não fosse a história por detrás de sua trilha: seu compositor, o australiano Nigel Westlake, foi considerado uma das grandes revelações da Música de Cinema ao final da década de 1990, até que sua carreira foi interrompida por um evento trágico: a morte de seu filho Eli, aos 21 anos, em 2008. Aviãozinho de Papel foi o primeiro longa relevante após isso, escolhido pelo compositor após ter sido tocado pela história do relacionamento entre o garoto Dylan e seu pai. Como tal, a música, interpretada pela Melbourne Symphony Orchestra com regência do próprio compositor, acaba sendo uma espécie de “sessão de terapia em forma de trilha sonora”: sentimental e tocante sim, mas também repleta dos sonhos e esperanças típicos de uma criança, lembrando o estilo dos trabalhos de músicos como David Newman e Bruce Broughton para filmes familiares. Tudo isso conduzido por um excelente tema que, introduzido na segunda faixa, Ready to Launch, traduz toda a temática do filme, com uma melodia emocionante, como se carregasse um sonho tão grande quanto voar pelos céus. Ainda me arrependo de ter deixado este belíssimo score fugir do meu radar, portanto, eu recomendo que você não cometa o mesmo erro que eu e procure-o imediatamente.

O grande momento: Qualquer um com o tema mencionado no parágrafo acima, em especial nas quase catárticas The Final Challenge e The Competition.

en_mais_fais_ce_qu_il_te_plait_CD5 – En mai fais ce qu’il te plaît – Ennio Morricone

Enquanto muitos de seus colegas europeus, como Maurice Jarre e John Barry, que, ao se mudarem para Hollywood, logo foram perdendo aos poucos espaço dentro da Música de Cinema, rumo à aposentadoria, Ennio Morricone ficou na Europa, onde não teria de se preocupar em competir com a crescente (e perturbadora) fascinação do cinemão americano com os compositores da Remote Control. Resultado: aos 87 anos, ele continuou mantendo uma mística em torno de si, enquanto trabalhava em produções de diversos países, compondo scores da mais alta qualidade. É o caso deste En mai fais ce qu’il te plaît, drama francês sobre a Segunda Guerra Mundial. Trata-se de uma bela trilha, que, apesar do tema pesado do longa, nunca se infiltra demais em território muito sombrio ou violento. A música permanece sempre ligada aos personagens, habitantes de uma pequena vila francesa invadida pelos nazistas: nostálgica pelos tempos bons agora já distantes, melancólica pela situação vivida, mas também esperançosa de dias melhores. Assim, temos uma das trilhas mais bonitas do ano, repleta de melodias que parecem querer se superar em escopo e beleza. Enfim, uma trilha digna dos grandes mestres, algo que Morricone certamente é.

O grande momento: A faixa inicial, En Mai, traz os nove minutos mais tocantes do ano, enquanto Respirations, como o título da faixa indica, intercala a bonita melodia com longas pausas, o que, por incrível que pareça, consegue deixá-la ainda mais emocional. Porém, é a última faixa a verdadeira estrela do disco, A La Recherche de La Paix, em que Morricone utiliza duas de suas marcas registradas, o trompete e uma soprano solo. Melodramático? Com certeza. Mas também extremamente bonito.

4 – Wolf Totem – James Horner

Após uma ausência de quase três anos, James Horner retornou ao cinema no que seria seu derradeiro ano com nada menos que três trilhas. E, por melhores que tenham sido Nocaute (Southpaw, 2015) e Os 33 (The 33, 2015), é Wolf Totem que pode ser considerada seu último grande trabalho sinfônico para o cinema. O drama acompanha a luta de um estudante na China para salvar do governo as últimas espécies de lobo da Mongólia, e é o tipo de filme que Horner adorava musicar: ambientado em paisagens grandiosas e com um escopo épico que permite suas orquestrações brilharem. O tema principal, ainda que lembre um pouco o tema de O Espetacular Homem-Aranha (The Amazing Spider-Man, 2012), traduz todos esses sentimentos, e a nobreza dos animais do título. Os críticos, claro, adoram desdenhar da manipulação das emoções do público promovida por Horner, bem como suas “auto-citações”, mas Wolf Totem mostra o compositor em seu melhor, e pode ser considerada como uma legítima carta de despedida para todos os seus fãs, admiradores e profissionais que colaboraram com ele em quase 40 anos de carreira.

O grande momento: Não existe outra palavra para descrever Return to the Wild, a última faixa, a não ser “espetacular”. Os quase dez minutos da faixa foram ouvidos obsessivamente por mim ao longo de todo o ano, me arrepiando em todas as vezes que escutei. 

Hateful-eight_CD3 – Os Oito Odiados – Ennio Morricone

De todas as trilhas aqui, esta é provavelmente a menos acessível. Ao invés de temas grandiosos e melodias épicas, dramáticas e memoráveis, a trilha de Morricone para Os Oito Odiados (The Hateful Eight, 2015) o novo filme de Quentin Tarantino, é um genuíno score de horror, que constrói uma atmosfera mais tensa e perturbadora do que a grande maioria das trilhas do tipo. Ainda assim, a complexidade da trilha e a ótima interpretação da Czech National Symphony Orchestra, que permitem a construção de tal clima, garantem que essa trilha, a primeira do maestro italiano para um faroeste desde 1981, ganhe uma posição tão alta. Claro, muitos podem desconfiar de Morricone por usar temas que remetem a seu score para O Enigma de Outro Mundo (The Thing, 1982), ou por incluir em sua orquestração uma caixinha de música reminiscente dos antigos filmes Giallo italianos da década de 1970, mas muita gente duvidou também quando ele inclui guitarras, gritos e assobios nos western spaghetti de Leone, hoje reconhecidos como clássicos do cinema e das trilhas sonoras. O fato é que “Il Maestro”, como ele é chamado, ainda continua um dos mais inovadores compositores do cinema aos 87 anos e, em meio a tanta mesmice nas trilhas hollywoodianas, um pouco de inovação sempre é bem vinda.

O grande momento: L’Ultima Diligenza di Red Rock (Versione Integrale), certamente uma das melhores faixas do ano, desenvolvendo, ao longo de seus mais de sete minutos de duração, tanto o tema principal, quanto as principais ideias do score. Mas o clima perturbador de Neve ou a ação dissonante de Sei Cavalli e L’Inferno Bianco também merecem destaque.

tomorrowlandCD2 – Tomorrowland: Um Lugar Onde Nada é Impossível – Michael Giacchino

A quarta colaboração entre o diretor Brad Bird e o músico Michael Giacchino também é uma das obras-primas da carreira do ítalo americano. Sua trilha conta com ótimos temas, muita ação e diversos momentos tocantes e nostálgicos no melhor estilo de seu trabalho em Super 8 (idem, 2011). Mas o principal feito de Giacchino aqui foi compor um score para um longa sobre o futuro sem deixar de olhar para o passado. Ao se inspirar em grandes trabalhos de compositores como Horner, Williams e Silvestri, incluindo uma singela homenagem a Indiana Jones e a Última Cruzada (Indiana Jones and the Last Crusade, 1989), ele espelhou o filme, que trazia um olhar nostálgico para a época em que víamos o futuro com otimismo, não com o cinismo niilista da atualidade, moldado pelos eventos históricos dos últimos anos. Assim, num ano tão constantemente brilhante para o ítalo americano, muitos fãs de trilhas sonoras se debateram sobre qual foi o melhor Giacchino de 2015, dentre as emoções de Divertida Mente (Inside Out, 2015), a grandiosidade sinfônica de O Destino de Júpiter (Jupiter Ascending, 2015) ou sua entrada com o pé direito em outra franquia iniciada por Williams em Jurassic World: O Mundo dos Dinossauros (Jurassic World, 2015). Eu, porém, escolho Tomorrowland por combinar as melhores qualidades de Giacchino, num trabalho que só não é o melhor do ano por causa de uma certa galáxia muito distante.

O grande momento: Empate técnico, entre a incrível Pin-Ultimate Experience, que acompanha uma interessante cena em plano-sequência num longa irregular, e os 15 minutos finais do disco, representados pelos cues Electric Dreams, Pins of a Feather e End Credits, um belo encerramento para o álbum e o filme.

force awakens CD1 – Star Wars: O Despertar da Força – John Williams

Nenhum filme foi mais discutido durante o mês de dezembro do que Star Wars: O Despertar da Força (Star Wars: The Force Awakens, 2015), desde os incontáveis recordes de bilheteria que o longa tem batido, até as eternas discussões entre blogueiros e internautas que amaram e odiaram o filme, cada um tentando provar seu ponto (e, se possível, ganhar uns pageviews com artigos bombásticos). Similarmente, nenhuma trilha sonora foi tão antecipada e depois debatida quanto o novo trabalho de John Williams para a franquia espacial criada por George Lucas. Falar do histórico do maestro com a saga é chover no molhado, mas, para O Despertar da Força, Williams fez jus aos seis scores anteriores, compondo um trabalho de qualidade superior, com ótimos temas, muita ação e uma perfeita integração do Williams de 1977 e o de 2015. É impressionante que, mesmo depois de quase meio século de carreira, o compositor ainda saiba dominar a orquestra como poucos, e utilizá-la simplesmente para contar a história com sua música, ressaltando com suas notas musicais e orquestrações inteligentes emoções complexas e motivações dos personagens. Eu me lembro de um antigo featurette sobre o Episódio III, no qual o produtor Rick McCallum declara que a música de Williams faz com que você possa assistir a um filme da saga e entender totalmente todas as suas emoções sem precisar ouvir os diálogos, e tenho certeza de que isto também se aplica a O Despertar da Força. Do maravilhoso tema de Rey ao sinistro motivo do Supremo Líder Snoke, do heroísmo da Marcha da Resistência e do tema de Poe aos acordes ameaçadores relacionados a Kylo Ren, da tragédia ouvida em The Starkiller e Torn Apart às enérgicas Scherzo for X-Wings e I Can Fly Anything, culminando no retorno dos temas clássicos que permitiram a toda uma geração (incluindo este humilde autor) experimentá-los no cinema pela primeira vez; tudo isso mostra que Williams compôs sua sétima obra-prima seguida para uma das sagas mais icônicas da história do cinema. E que venham também a oitava e a nona!

O grande momento: Já elenquei alguns no parágrafo anterior, porém, dentre todos eles, meu preferido da nova trilha está na segunda faixa, a linda The Scavenger. Citando meu próprio texto sobre o score: “[…] após algumas belas frases para flautas, o tema de Rey aparece aos 0:54 da faixa, acompanhando a introdução da personagem, catando lixo e tentando sobreviver no deserto de Jakku – e não exagero quando digo que tal cena, que soma a bela fotografia de Dan Mindel com a maravilhosa melodia de Williams, já é um dos meus momentos musicais preferidos do ano.”.

Outras trilhas de destaque no ano que se passou foram: A Colina Escarlate (Crimson Peak, 2015), de Fernando Velázquez; Homem Formiga (Ant Man, 2015), de Christophe Beck; O Agente da U.N.C.L.E. (The Man from U.N.C.L.E., 2015), de Daniel Pemberton; Terremoto: A Falha de San Andreas (San Andreas, 2015), de Andrew Lockington; Malala (He Named Me Malala, 2015), de Thomas Newman; Peter Pan (Pan, 2015), de John Powell; as já mencionadas Divertida Mente, Jurassic World e O Destino de Júpiter, de Michael Giacchino; e os últimos trabalhos gravados de James Horner, Os 33 e Nocaute.

E para você, quais foram as melhores trilhas de 2015? Comente logo abaixo e vamos comparar nossas listas!

Tiago Rangel

5 comentários sobre “Na Trilha: Retrospectiva 2015 – Parte 1

  1. É claro que há várias trilhas que merecem ser lembradas. Particularmente, gosto bastante de The Danish Girl. Considero Mad Max um álbum de difícil audição, mas a música Many Mothers é fantástica. A Travessia, por mais que algumas vezes incoerentes, me agrada bastante, principalmente a faixa I Fell Thankful. O Pequeno Príncipe, Para Sempre Alice e várias outras já mencionadas, como Os Oito Odiados e Star Wars, merecem ser lembradas. No geral, 2015 foi um bom ano!

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  2. Talvez o nome Tiago influencie na personalidade e em gostos, pq meu primeiro, segundo e terceiro lugar são idênticos ao seu kkkkkk. Não vi ainda Os Oito Odiados, mas é daquelas composições magníficas que mostram sua qualidade mesmo antes do filme.

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