Na Trilha: Retrospectiva 2016 – Parte 3


As melhores ScoreTracks de 2016

Em todas as grandes trilhas, existem algumas composições em particular que se destacam. Seja por sua ótima qualidade musical, seja por acompanharem cenas marcantes, ou ainda por uma combinação de ambos, algumas faixas (como os Main Titles de Star Wars e a The Assassination de Psicose) acabam por entrar em nosso imaginário coletivo cinéfilo e se tornam as maiores representantes de suas respectivas trilhas.

No ano passado, tivemos ótimas faixas de todos os tipos: músicas minimalistas que conjuravam enormes tensões, elegias dramáticas para o clímax de muitos filmes, suítes marcantes para os créditos finais – incluindo uma que está mais para rock progressivo do que para as trilhas hollywoodianas da atualidade. Confira abaixo quais foram as melhores scoretracks de 2016, e não se esqueça de comentar a sua lista particular logo abaixo!

Bailongma, The White Dragon Horse Christopher YoungThe Monkey King 2

De todas as scoretracks presentes nesta lista, esta foi a única a qual não conferi no contexto do longa que a acompanha, que, afinal, nem foi lançado no país. Por outro lado, talvez nem seja necessário: a forma como Christopher Young montou o álbum desta trilha, mais baseado em grandes suítes do que em cues do filme, lhe permite criar peças de música completas em cada faixa, narrativas com início, meio e fim. Destas, a melhor é certamente Bailongma, The White Dragon Horse: de seu início dramático e pesado, que progressivamente se torna mais épico e comemorativo, com percussão, coro e trompetes que poderiam ser de uma celebração após uma grande vitória, vemos um arco narrativo completo. Assim, cinco minutos de faixa sintetizam tudo o que o cinema hollywoodiano perdeu ao não oferecer longas compatíveis com o enorme talento de Young.

 Elephant WaterfallJohn Debney The Jungle Book

Ouvida logo após o clímax de Mogli – O Menino Lobo, esta belíssima faixa de John Debney traz as performances mais majestosas dos temas principais em seu score, uma emocional interpretação do triunfo do personagem-título, apesar de todas as dificuldades. Debney deu o tratamento de um grande épico hollywoodiano ao remake de uma alegre animação musical de cinquenta anos atrás, e, ao mesmo tempo, escreveu uma homenagem pessoal à sua infância, passada dentro dos estúdios Disney. Sim, o uso de Rue’s Farewell, da trilha de Jogos Vorazes (The Hunger Games, 2012) como temp track ao início da faixa é evidente, mas, felizmente, Debney não se prende a isso e escreve uma das peças mais emocionalmente impactantes de toda a sua carreira.

Wedding – Jo-Yeung Wook – The Handmaiden

Se eu fosse escolher as minhas cenas preferidas do cinema do ano passado, esta belíssima montagem do drama coreano A Criada (Ah-ga-ssi, 2016), estaria entre as primeiras, muito por causa do excelente cue que a acompanha. A trilha composta por Jo-Yeung Wook atinge aqui seu ápice, numa melodia habilidosamente construída ao longo de quase cinco minutos. A Música de Cinema sempre tem a ganhar quando a confiança entre um diretor (no caso, o renomado Park Chan-Wook) e seu compositor é tamanha que o primeiro permite ao segundo compor uma peça com início, meio e fim, para uma cena onde o papel da trilha é de verdadeiro protagonismo.

Light of the SevenRamin Djawadi – Game of Thrones

Exibido em junho do ano passado, The Winds of Winter, o episódio que encerrou a sexta temporada de Game of Thrones, foi considerado por muitos como um dos melhores do drama de fantasia da HBO. Muitos dos elogios foram direcionados à sequência de abertura, que acompanha, ao longo de mais de vinte minutos, um julgamento, um explosivo plano de vingança e um suicídio – o clímax de vários arcos iniciados temporadas antes. Uma ajuda fundamental recebida pela cena foi o cue minimalista de Ramin Djawadi, Light of the Seven, que, instantaneamente, se tornou um imenso sucesso entre os fãs da série. Utilizando poucos elementos (piano, órgão, dois garotos sopranos, violino e cello), o compositor foi capaz de retratar toda a tensão e o senso de imprevisibilidade e da tragédia por vir. Assim, por causa de este e de outros cues (Maester, Hear Me Roar, The Tower) The Winds of Winter é, de longe, o episódio com a melhor trilha entre todas as temporadas do drama.

Sophie and The BFG John Williams The BFG

A mais nova parceria entre duas lendas do cinema, Steven Spielberg e John Williams, infelizmente não demorou a ser obscurecida por outros longas do ano. No caso do lendário maestro, que passou a maior parte do século compondo para dramas sombrios de guerra, ficções científicas e os novos capítulos das sagas Star Wars e Indiana Jones, O Bom Gigante Amigo representou uma ótima oportunidade para voltar a trabalhar em fantasias infantis. Assim, por mais que este score não esteja no nível dos grandes clássicos de Williams no gênero, o sujeito mostra que ainda não perdeu seu talento especial para compor música de um ponto de vista infantil. Sophie and The BFG, a bela suíte dos créditos finais, costura todos os temas escritos pelo maestro até então, mantendo o ar mágico, brincalhão e inocente que poucos longas voltados para crianças possuem hoje em dia.

The Master of the Mystic End Credits  Michael GiacchinoDoctor Strange

O que você esperaria para a suíte dos créditos finais de um filme de super-herói? Provavelmente, orquestra, coro, fanfarras heroicas… No caso do Universo Cinematográfico da Marvel, este tem sido o padrão até o momento, e, durante a maior parte dos créditos, ouvimos apenas uma suíte mal montada pelos editores musicais dos longas, baseadas em cues anteriores. Mas eis que, quando tudo parecia perdido, surge Michael Giacchino, o verdadeiro super-herói das trilhas sonoras, para nos salvar, com esta divertida faixa de rock progressivo, uma homenagem às raízes psicodélicas do Doutor Estranho. Giacchino criou uma peça tão autêntica quanto possível, de forma que, se você mostrasse tal faixa a um fã de prog-rock nos anos 1970, é provável que ele pensaria que esta seria uma canção perdida de George Harrison e Ravi Shankar (mesmo que ela tenha sido baseada no próprio tema do compositor para o herói). Já que os filmes de super-heróis vieram para ficar, então que ao menos ofereçam na música a mesma diversidade e criatividade mostradas na tela.

End Titles – Fantastic Beasts and Where to Find Them James Newton HowardFantastic Beasts and Where to Find Them

O álbum da trilha de Animais Fantásticos e Onde Habitam está repleto de longas faixas, com três delas girando em torno dos dez minutos de duração. Assim, se por um lado é reconfortante assistir a um filme que abre espaço para longos trechos musicais, por outro, em disco, os momentos de verdadeira excelência acabam um pouco diluídos. Por isso, ao escolher a melhor faixa desta que foi minha trilha preferida em 2016, optei por esta grandiosa suíte dos créditos finais, que, em pouco mais de dois minutos, encapsula muitas das qualidades deste belo trabalho de James Newton Howard. Aqui, os três temas que ele escreveu para o protagonista Newt Scamander performances grandiosas e repletas de vivacidade, demonstrando que as aventuras do magizoologista no mundo mágico estão apenas começando.

Wayward Sisters – Abel Korzeniowski – Nocturnal Animals

Pode-se dizer que a cena de abertura de Animais Noturnos é uma sequências mais impactantes do ano. A dança de mulheres obesas, livres e felizes, é retratada por esta faixa apaixonada e vivaz de Korzeniowski, e oferece um contraste brutal com a vida repleta de regras, traumas e culpas da protagonista Susan. A expressividade da música do compositor, com seus violinos românticos, também lembra algo que poderia ter sido escrito para um thriller dos anos 1950, sem as amarras que hoje a Música de Cinema parece carregar. De toda forma, uma excelente introdução para o filme, e para a excelente trilha que o acompanhará.

Epilogue – Justin Hurwitz –  La La Land

Entre a comunidade cinematográfica, um dos debates cercando o favoritíssimo ao Oscar La La Land: Cantando Estações (La La Land, 2016) é acerca de seu final. Uns o acharam depressivo e melancólico demais para o tom que o longa vinha tendo até então. Outros consideraram a montagem final extremamente poética e profundamente tocante. De toda forma, o que não se pode negar é que muito da força da cena vem da trilha de Hurwitz, que, ao longo de sete minutos, reprisa praticamente todas as canções e temas ouvidos até então, o que dá uma nova dimensão à tal montagem: uma história que poderia ser, mas não foi; sonhos que não se concretizaram; a vida que nem sempre ocorre como gostaríamos. Além disso, a performance do love theme em orquestra e coro na segunda metade da faixa, seguido por uma nostálgica versão de City of Stars no piano, são momentos que certamente farão por merecer o Oscar que Hurwitz provavelmente levará para casa no domingo.

Your Father Would Be Proud/Hope – Michael Giacchino – Rogue One: A Star Wars Story

Depois de um ano ocupado, Michael Giacchino ainda arrumou espaço em sua agenda para cair de paraquedas na saga que o inspirou a se tornar músico. Ainda que tivesse uma enorme pressão sobre seus ombros, o compositor não decepcionou e entregou um bom trabalho para o spin-off Rogue One. Porém, por melhor que fosse seu score, seu momento de maior brilho está nos dez minutos finais do longa. Your Father Would Be Proud é uma grandiosa elegia que fala bem aos temas de sacrifício, e a demonstração musical de todo o esforço de um grupo de rebeldes mal equipados, unidos apenas pelo seu desejo de acabar com o tirânico Império, agora de posse de sua mais terrível arma, a Estrela da Morte. Depois, Hope retrata Darth Vader como você nunca o viu antes, em todo o seu terror e imponência, num cue que é mais Christopher Young e menos Imperial March. Por isso, muitos puristas diminuíram esta faixa de Giacchino, ao argumentar que este é o equivalente musical de uma fanfic. Bem, estejam eles certos ou errados, não deixa de ser extremamente divertido ver Giacchino prestando sua homenagem ao personagem o qual ele idolatrou por tanto tempo.

Tiago Rangel

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