Música composta por Hans Zimmer e Richard Harvey
Selo: Because Music
Catálogo: Download Digital
Lançamento: 24/07/2015
Cotação:
O mais novo filme baseado no clássico da literatura infantil de Antoine Saint-Exúpery não é exatamente uma adaptação do livro, mas sim uma reinvenção moderna. Na história deste O Pequeno Príncipe (Le Petit Prince, 2015), uma garotinha vive com sua mãe obsessiva, que quer controlar todos os passos de sua vida. Ela acaba fazendo amizade com um excêntrico senhor, que lhe conta justamente a história do livro, sobre um pequeno príncipe que vive num asteroide com uma rosa, e encontrou um aviador perdido no deserto, na Terra. Exibida em Cannes, a animação conquistou boas críticas, e tem produção europeia, apesar de ter na direção o americano Mark Osborn, que tem no currículo blockbusters como Bob Esponja: O Filme (The SpongeBob Squarepants Movie, 2004) e Kung Fu Panda (idem, 2008). E foi deste último que ele recrutou o alemão Hans Zimmer para fazer a trilha de sua nova animação.
Zimmer, depois de ter emendado um blockbuster atrás do outro nos últimos anos, decidiu dar um passo para trás, e trabalhar apenas em projetos menores (no tamanho do orçamento, claro) em 2015 – no ano que vem, ele volta com força total, não precisam ficar com saudades. Aparentemente, depois de uma carreira de quase três décadas na Música de Cinema, onde ele ganhou fãs e críticos em igual medida e foi provavelmente a figura mais controversa da história das trilhas sonoras, Zimmer decidiu que seus próximos passos seriam ajudar seus protegidos a ganhar (ainda mais) espaço em Hollywood. O sujeito parece ter chegado num ponto de sua carreira em que ele já conquistou tudo o que devia conquistar, e agora quer que seus aprendizes se espalhem e se multipliquem por toda a indústria de cinema. Desta forma, é bem provável que o seu nome, em seus últimos scores, seja apenas para atrair publicidade para a trilha, sendo os verdadeiros responsáveis pela música seus co-compositores. Foi assim com Steve Mazzaro e Andrew Kawczynski em Chappie (idem, 2015) e também agora com Richard Harvey em O Pequeno Príncipe.
Harvey, para quem ainda não o conhece, escreveu o cue Kyrie for Magdalene, no score de O Código Da Vinci (The Da Vinci Code, 2006) e serviu de maestro para esta trilha, bem como para outras do alemão, como Madagascar 2: A Grande Escapada (Madagascar: Escape 2 Africa, 2008) e Interestelar (Interstellar, 2014). Ele também já trabalhou em outros longas como compositor solo, mas nada que tenha chamado muita atenção. Talvez esta trilha seja a que irá lhe atrair novos trabalhos em Hollywood, embora, assim como em todos os outros scores da Remote Control, não dá para dizer exatamente qual foi o papel de cada compositor na música do longa. Por outro lado, este é um trabalho completamente diferente do que seria de se esperar da companhia.
Obviamente, os power anthems e as orquestrações turbinadas por eletrônicos soariam terrivelmente fora de lugar nessa animação, que pede por um trabalho mais suave. O que é mais impressionante, porém, é a abordagem majoritariamente orquestral empregada pela dupla aqui, que combina leveza, magia e inocência num nível pouco visto antes pelos músicos da RC. Talvez seu primo mais próximo aqui seja o score de Um Conto do Destino (Winter’s Tale, 2014), também composto em dupla por Zimmer, em parceria com Rupert Gregson-Williams, embora aqui sem a carga dramática daquela trilha. Vale destacar também a contribuição da cantora francesa Camille, que já havia colaborado com Michael Giacchino em Ratatouille (idem, 2007). Além de colaborar com quatro canções, ela também participa com sua bela voz do score, acrescentando outra camada de magia à música.
Na verdade, um dos motivos principais da trilha consiste numa voz quase sussurrada pela francesa, que aparece logo na primeira faixa, junto a cordas, harpas e sopros, lembrando alguns scores de Danny Elfman para Tim Burton. Entretanto, apesar deste bom início, a primeira metade do disco é certamente a mais fraca. Boa parte das faixas são curtas e mais leves do que o costume, com bastante comédia e elementos de mickeymousing – o que é até perdoável, considerando que se trata de um filme para crianças.
As coisas começam a mudar a partir de Top Floor Please, que inicia de forma cômica, mas logo a música muda para um tom misterioso, como uma jornada prestes a começar. Ela é seguida por uma trilogia de bons cues: Ascending traz uma bela melodia, quase como uma dança, para cordas, com participação do main theme e de um violino solo ao fundo, como acompanhamento; Parachutes traz um clima quase de sonho, com o violino da faixa anterior, a voz e xilofones; e a bela e triste Draw me a Sheep introduz um novo tema: interpretado por um garoto soprano e depois por uma flauta em estilo folk, com acompanhamento de cordas, é uma bonita, ainda que triste, melodia. Mais para a frente, a ótima (apesar de curta) The Fox vai ainda mais além na música étnica, com sua tocante interpretação do tema principal para harpa, cordas e acordeão. Já The Absurd Waltz, a décima oitava faixa do disco, é basicamente o que o título indica, uma valsa cômica, com participação de instrumentos de percussão incomuns e saxofone.
O final do disco tem uma boa parte de ação, começando com Recovery, e, ainda que esses cues não sejam muito diferentes da média produzida para animações atuais, eu já fico aliviado em ver os ostinatos sem fim, os sintetizadores e os terríveis e impiedosos horn of doom bem longe daqui. Assim, o destaque, sem dúvida, vai para a bela Escape, uma faixa de ação cheia de energia e heroísmo, mas que ainda consegue manter a inocência infantil do restante da música (e é curioso ver que a participação de Camille pode ter sido maior que o habitual, com a estrutura da música soando como quase como uma das canções da francesa).
Porém, minhas faixas preferidas são as duas últimas. Finding the Rose traz uma belíssima interpretação do tema da décima quarta faixa, numa linda melodia para piano, orquestra o garoto soprano. Já a conclusiva Growing Up desenvolve o tema principal de forma dramática ao longo de seus quatro minutos, bem no estilo que Zimmer costuma fazer.
No disco, O Pequeno Príncipe já se destaca naturalmente por ser um bonito, leve e inocente score, e não uma bagunça eletrônica indutora de dor de cabeça. É triste, porém, constatar que Zimmer sozinho receberá todos os créditos pela qualidade da música, seja de seus fãs, seja até mesmo dos críticos, subestimando, assim, o trabalho não só de Harvey, como também de toda a equipe da RC, como o maestro Nick Glennie-Smith, os orquestradores Stephen Coleman e Adam Langston, e, claro, os numerosos compositores de música adicional, como Nathan Sornetta e Dominic Lewis. É claro que, sob o ponto de vista da pura apreciação musical, no fim das contas não importa quem escreveu o quê. Mas, se você for um fã do alemão e gostar desta trilha, bem, tenha em mente que ele não foi o único responsável pela bela música que você acabou de ouvir.
Faixas:
1. Preparation (02:09)
2. Suis-Moi (03:26)
Feat. Camille
3. The Life Plan (01:12)
4. Driving (01:40)
5. Equation (02:03)
Feat. Camille
6. The Interview (02:15)
7. Le Tour De France En Diligence (01:16)
Feat. Camille
8. Plan B (00:36)
9. Getting On With It (01:43)
10. Amongst The Coins (02:36)
11. Top Floor Please (00:57)
12. Ascending (03:14)
13. Parachutes (03:48)
14. Draw Me A Sheep (03:39)
15. Stars (00:26)
16. The Fox (00:54)
17. The Journey (02:35)
18. The Absurd Waltz (04:07)
19. Suis-Moi (Reprise) (03:09)
Feat. Camille
20. Recovery (01:47)
21. Trapped Stars (04:00)
22. Farewell (01:58)
23. Escape (03:13)
24. Finding The Rose (04:22)
25. Growing Up (04:17)
Duração total: 71:22
Tiago, acho que você deve saber que Hans Zimmer já perdeu indicação ao Oscar por creditar os nomes de todos os compositores que participam em suas trilhas. Acho que comercialmente é mais fácil vender um disco com o nome dele estampado na capa do que outro que a gente não conhece. Ele nunca falou que suas trilhas são obras só dele, se assim fosse os créditos nos encartes das trilhas só teríamos o nome dele. É um grupo grande de compositores trabalhando para poder dar conta de tantos projetos. É fácil encontrar vários vídeos, no You Tube e inclusive no site dele, aonde ele mostra a maneira de trabalhar nas trilhas. Quase sempre tem muita gente envolvida. Sem falar em suas várias parcerias com outros grandes compositores de talento. Daí realmente a gente fica sem saber quem fez o quê. Já assistiu ao documentário, que logo virá o show, de Hans e seus amigos tocando suas trilhas? Vale a pena assistir. Já assisti a outros documentários inclusive em alemão contando sua vida. É bastante consistente o carinho, admiração e respeito que ele tem dos colegas de profissão. Na próxima trilha do Batman Vs Superman teremos cria e criador juntos, mais uma vez! Você já sabe a quem me refiro! Essa trilha me surpreendeu também por fugir de suas marcas registradas.
Abraços!
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“Aparentemente, depois de uma carreira de quase três décadas na Música de Cinema, onde ele ganhou fãs e críticos em igual medida e foi provavelmente a figura mais controversa da história das trilhas sonoras, Zimmer decidiu que seus próximos passos seriam ajudar seus protegidos a ganhar (ainda mais) espaço em Hollywood. O sujeito parece ter chegado num ponto de sua carreira em que ele já conquistou tudo o que devia conquistar, e agora quer que seus aprendizes se espalhem e se multipliquem por toda a indústria de cinema”
Honestamente, desde que tomei conhecimento da maneira de trabalho dele, nunca vi isso com bons olhos. Do meu ponto de vista, esse negócio de QI (quem indica) é bastante injusto. No ramo de trilhas para filmes, o que conta é talento, um estilo próprio. Coisa que a maioria dos Remote Control, não têm. Sério mesmo que esse Richard Harvey, não sabe caminhar com as próprias pernas? É, realmente, preciso o nome do Zimmer ser estampado no CD? O que vale mais: uma boa trilha sonora, ou um belo marketing pra vender discos (a lata de Man of Steel, a caixa Luminosa de Interstellar, a rosquinha dos Simpsons)?
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Depois da trilha aborrecida, pretensiosa e maçante de Interstellar, admito que comecei a cansar do Zimmer. É triste que o cara que fez as trilhas de O Rei Leão e de Gladiador tenha seguido esse caminho. Sobre os protegidos dele, um de que eu gostava era o Klaus Badelt, que fez o ótimo score de Piratas do Caribe: A Maldição do Pérola Negra. Pena que nunca deslanchou.
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É possível escutar um pouquinho de Apollo 13 em “Recovery” após os 30 primeiros segundos.
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