O que era pouco provável, e até mesmo indesejável para muitos, aconteceu: em pleno século XXI: Rambo, um dos ícones do final da Guerra Fria, ressurgiu nas telas em Rambo IV (John Rambo, 2008, 102 min) como eco de um ideal esquecido e decadente. Após a lastimosa morte do maestro Jerry Goldsmith em 2004 que, de forma magistral, compôs para a trilogia inicial deste herói, esperava-se que um compositor de qualidade pudesse neste novo filme dar continuidade à sua herança. No entanto, comparando a partitura mais recente com as do falecido mestre, a percebemos fria e desigual – decepcionando os que confiaram na habilidade de Brian Tyler para recriar a música do herói.
O cinema dos anos 1970 e 1980 deu à luz a personagens que deixaram sua marca nas bilheterias das salas de cinema e nas retinas de seus espectadores, e entre eles está Rambo. Essa forma de fazer cinema, focada no público jovem, iniciada com Star Wars Episódio IV: Uma Nova Esperança (1977) e desdenhada pela crítica, impulsionou uma revolução que marcou a história da música em plena era das frívolas modernidades eletrônicas e dos “dabadabadas” das trilhas de Francis Lai que, em 1970, ganhou o Oscar pela trilha musical de Love Story. Em uma época em que quase todos pareciam ter esquecido o instigante arrepio provocado pela música áspera e penetrante de Psicose (1960), a orquestra sinfônica, o anacronismo dos anacronismos, ressurgia. A trilha sonora original ganhava um novo significado, ampliava seu leque expressivo adquirindo um caráter envolvente que a posicionava não somente como acompanhamento da cena, mas preferencialmente como elemento importante na composição do significado narrativo proposto. Nessa linha, para as andanças de John Rambo, Goldsmith comporia um conjunto de partituras que se movia com prodigiosa facilidade entre o intimismo, refletido no melancólico tema associado ao veterano do Vietnam, e a ação mais enérgica, fiel reflexo do caráter hiper violento do personagem.
A dupla de produtores Mario Kassar e Andrew Vajna, especialistas em filmes de ação, impelidos pela onda de partituras orquestrais de sucesso, convidaram Goldsmith para musicar Rambo – Programado para Matar (First Blood, 1982), que materializou a fantasia que está no inconsciente coletivo do americano, o indivíduo que enfrenta o sistema. O sistema sempre vence, mas o herói dá muito trabalho antes de desistir. Com a Guerra Fria a sociedade norte-americana necessitava seguir alimentando-se, através do cinema, de heróis com os quais pudessem se identificar. Necessitavam de um “super-homem” que lutasse pela nação americana, como havia há pouco feito e pregado, em claras palavras, o mesmíssimo Superman (1978). Desta maneira nasceu para as telas, sob a direção de Ted Kotcheff (Um Morto Muito Louco, 1989), o personagem heroico baseado no livro de David Morrel, denominado simplesmente Rambo, publicado em 1972. Seguindo a obra que o inspirou, o filme, assim como o livro, mostra a história de um veterano da guerra do Vietnã que procura por seus amigos e que, ao passar por uma pequena cidade, é considerado um vagabundo pelo xerife local, que o prende só por insistir em atravessá-la. Na prisão, os guardas o atormentam sem saber que estão reavivando situações que passou quando foi preso por vietcongues. Ao ultrapassar esse limite de consciência, Rambo foge da cadeia, sendo perseguido.
O personagem problemático e doentio do livro acabou por fugir de seu perfil original, tanto em sua primeira adaptação para o cinema quanto em suas sequências, para assumir o figurino do herói defensor dos valores norte-americanos. Dez anos antes, Billy Jack (1971) seguira a mesma fórmula com igual simpatia do público, ele era um guerreiro, um místico, um mártir, um descendente dos índios americanos e ex-Boina Verde voltando a viver na solidão em uma reserva no Arizona. Rambo trouxe um novo ingrediente, a difícil adaptação dos veteranos da guerra do Vietnã. Enquanto O Franco-Atirador (The Deer Hunter, 1978) e Apocalipse Now (1979) narram fatos que ocorreram no palco da guerra, Rambo tentava mostrar o lado negro da volta para casa, juntando-se a isso o exercício da autoridade com arrogância. Com tudo isso, Rambo acabou por solidificar a carreira de Sylvester Stallone, que já havia conquistado fama mundial pelo personagem do boxeador Rocky, que roteirizou e interpretou com êxito em 1976 sob a direção de John Avildsen (Karate Kid, 1984).
O filme inicia com o tema “Home Coming”, enquanto vemos na tela um solitário homem caminhando por uma estrada, o violão harpejando precede um solo de trompete que desenvolve o leit motiv do filme: uma melodia melancólica, que descreve precisamente o caráter solitário do protagonista em sua volta para casa. A seção de cordas da orquestra se apresenta para acompanhar o trompete e o violão, nos brindando com uma resolução final em que, unindo-se com madeiras e trompas, nos sopram a nostalgia de um tempo distante na memória de Rambo. A partitura também nos apresenta o inquietante tema “Scape Route” em que, musicalmente, o compositor californiano se propõe a descrever os passos cautelosos de um fugitivo, seu personagem-tema, não de forma mímica e caricatural, mas delineando ânimos e gestos com uma competente e envolvente habilidade musical.
O caráter geral do trabalho está muito mais ligado ao suspense que à ação, e ainda que não faltem momentos onde o compositor faz uso de ornamentos de uma partitura pulsante e enérgica, se trata, em sua maior parte, de uma trilha sonora que tende para uma tensa espera que se resolve em elaboradas e espetaculares peças, marcas do trabalho de Goldsmith. Toda a trilha sonora está construída a partir da elaboração e reinstrumentação de um par de idéias geradoras, um sistema compositivo que acaba por render bons resultados. O aspecto melódico deriva do tema principal, onde um lento acompanhamento de violão serve de base a uma nobre e melancólica trombeta militar. E o aspecto rítmico que se define a partir de um pujante ostinato em que as notas graves do piano são encobertas pelo sintetizador, outro dos recursos típicos do artista que se propõe a inovar mesclando texturas orquestrais e eletrônicas. Amigo das métricas irregulares, Goldsmith obtêm ágeis e estimulantes combinações rítmicas a partir da alternância de compassos de cinco, sete e quatro tempos.
Em “Firs Blood” (Faixa 03) encontramos pela primeira vez um tema singelo, mas ao mesmo tempo marcante: o leitmotiv da desolação executado por trompetes que ressoam sobre a tensa base das cordas graves e agudas, estáticas e o retumbar marcado e espaço dos tímpanos. Logo o tema principal, lenta e angustiosamente, sobre a marcação rítmica do piano grave, é recapitulado pelas cordas e depois pelo trompete. Após o ressoar da percussão militar uma nova seção rítmica se inicia, progredindo no tempo e entrecortada por rompantes de suspense. Em “The Tunnel” (Faixa 04) a música em ânimo crescente reflete o suspense e o posterior caos. Destaca-se em especial também “Hanging on” (Faixa 05), pelos processos acumulativos de densidade instrumental em um ritmo entrecortado e incisivo, e por sua clara organização formal em três grandes blocos.
O assombroso tema de ação “Mountain Hunt” (Faixa 06) alude à seqüência na qual Rambo é perseguido pela polícia através do bosque e das montanhas. Aqui escutamos uma esplêndida fanfarra com trompetes, background de cordas, e o tema principal de Rambo é apresentado à grande orquestra, para logo voltar ao ostinato dos sintetizadores e cordas de fundo. Trombones e pratos finalizam o suspense desta cena do filme. Goldsmith compôs uma música final para First Blood, denominada “It’s A Long Road” (Faixa 11), mas que por fim não foi usada no filme em sua versão instrumental, sendo convertida numa canção açucarada interpretada por Dan Hill. No entanto, a música que originalmente Goldsmith pensou para os créditos finais afortunadamente foi incluída no álbum. Esta, uma recapitulação do tema principal, “Home Coming” (Faixa 01), que recebe um tratamento orquestral mais elaborando, compondo-se de uma base de cordas e trompete solista, que logo são acompanhadas pela seção de madeiras, com percussão de fundo, e para terminar, violinos e trompetes.
Atrás do êxito de First Blood, a segunda parte não tardou em aparecer. Rambo II: A Missão (Rambo: First Blood Part II, 1985, 95 min), retoma à história do primeiro filme desta vez dirigida por George Pan Cosmatos, com quem trabalhou Jerry Gooldsmith em The Cassandra Crossing (1976) e Leviathan (1989). Esta segunda parte, cujo roteiro fora escrito pelo próprio Stallone e o, naquele momento, futuro diretor de Titanic (1997), James Cameron, centra seu argumento no fato de Rambo estar na prisão, cumprindo pena de dez anos de trabalhos forçados, quando o seu ex-comandante, o coronel Trautman, aparece com uma proposta para libertá-lo. Ele deve ir numa missão ao Vietnã em busca de evidências de que ainda existem prisioneiros americanos por lá. Portando apenas a sua famosa faca e um arco e flechas, traído por seus companheiros, Rambo luta contra a força opressora do inimigo e jura vingança àaqueles que o fizeram como inimigo. E agora “Nenhum homem, nenhuma lei, nenhuma guerra, podem detê-lo”.
Assim, para a espetacular sequência, entregando-se totalmente ao frenesi e à ação sem limites, Jerry Goldsmith compôs uma monumental partitura totalmente nova, impetuosa e complexa, que se estabelece sobre a reciclagem do tema principal do protagonista e sua célula rítmica característica com variações na orquestração. Para isso contou com a National Philharmonic Orchestra, histórica formação com a qual o compositor gravou muitas de suas trilhas sonoras para o cinema. O resultado é assombroso. Basta escutar qualquer faixa do álbum para imaginar as batalhas que Rambo trava em plena terra vietnamita. O “Main Title” sugere ao ouvinte o lugar onde se situa a ação: Vietnam. Uma leve introdução de violinos que dão passagem aos sintetizadores e forte percussão com trombones, cordas ao modo escalar “oriental” e madeira diversas, dão uma nova interpretação do tema de Rambo, descrevendo o que será um prelúdio da ação e da aventura.
“The Jump” descreve a cena do desesperado salto de Rambo do helicóptero. Aqui a música, com sintetizadores e um início de cordas de fundo, precede ao caos que logo o herói viverá. Escutamos o leitmotiv do personagem que aparece em variações percussivas até se transformar em uma espécie de “caos musical” com trompetes e percussão. Assim nos damos conta que Rambo não pode soltar-se do pára-quedas, até que consegue cortar a corda e a música, atenuada, acompanha a queda do personagem. Logo no início de “Bring Him Up / The Eyes” soam pela primeira vez os oito acordes associados ao Coronel russo Podovsky, outro leitmotiv chave, ao lado do recorrente tema central. Sua translação musical vem numa contundente fanfarra de trompas interpretada em registro grave. Adicionalmente, o exército vietnamita terá também seu motivo musical, mediante um bloco de percussão oriental eletrônica incluído em várias músicas, mas só integralmente apresentado na faixa “River Crash / The Gunboat” associado ao seu primeiro confronto com Rambo.
“Escape From Torture” é uma notável passagem onde a orquestra se sobressai em densidade. Esta seqüência musical contundente se passa enquanto Rambo e o coronel Trautman (Richard Crenna) são torturados com choques elétricos dentro de uma improvisada prisão. Prontamente Rambo se liberta e foge de forma desesperada tentando libertar os prisioneiros de guerra. Sobre a base do leitmotiv do herói e com referências ao tema do Coronel russo, Goldsmith compõe três minutos de autêntica brutalidade sonora, com transições rítmicas sensacionais e de tal dificuldade que somente poderiam ser reproduzidas por uma orquestra do calibre da National Philharmonic. A música com sintetizadores, trombones e violinos, acentua os passos e gestos da fuga de Rambo e Trautman da prisão numa fabulasa sincronia com as imagens, enquanto a percussão acompanhada pelos trompetes, acentua o dramaticidade da cena a medida que ela transcorre. Por fim o tema de Rambo aparece apresentado de forma magistral, com metais, cordas, pratos e percussão enfatizando o êxito da fuga.
Compondo a parte final do álbum vivenciamos as passagens mais brutais tanto do filme quanto de todo score, uma sucessão de potentes temas que eletrizarão o ouvinte. Começando com a tensão transbordante de “Revenge”, clara variação de “Mountain Hunt”, de First Blood, seguindo com as aguerridas “Bowed Down” e “Pilot Over”, esta última, outro exemplo claro da invejável habilidade rítmica do californiano, culminando com “Village Raid / Helicopter Flight”. Nela, Goldsmith recorre a violentos golpes de percussão na cena do bombardeio ao povoado vietnamita, para logo desembocar em uma esplêndida recapitulação de “Escape from Torture”, ouvida durante a vibrante perseguição final com o helicóptero russo.
Os únicos instantes brandos da partitura são encontrados em “Stories” e “Day by Day”, este último o epílogo do filme e que introduz motivo melódico da desolação do protagonista executado pelos trompetes. Uma peça magnífica para a burlesca cena do diálogo final entre Rambo e o coronel Trautman. Como não poderia ser de outra maneira, uma canção, “Peace in Our Life”, interpretada pelo irmão de Sylvester, Frank Stallone, e com música do próprio Frank Stallone e Jerry Goldsmith, encerra a trilha sonora de Rambo: First Blood Part II. Mas não vamos perder tempo com essa odiosidade, principalmente porque o score instrumental do mestre Goldsmith é demasiadamente brilhante para ser prejudicado por esta insossa maneira de musicar os títulos de crédito finais.
Em Rambo III – O Resgate (Rambo: First Blood Part III, 1988, 102 min), o veterano da Guerra do Vietnã, ex-presidiário e sobrevivente de uma missão mal-sucedida, Rambo, refugia-se em um mosteiro budista, em busca de paz espiritual. Convocado para uma nova e arriscada missão no Afeganistão, Rambo a recusa, cansado de tanto lutar. Mas seu velho amigo, o coronel Trautman, seu mentor, cai nas mãos dos soviéticos durante a ocupação do Afeganistão. Seu retiro é interrompido para uma aventura onde o herói, em cenas nas montanhas, mata um a um os soviéticos para delírio de seu público alvo. Filmada em Israel, a história é escrita novamente por Stallone em colaboração com Sheldon Lettich e dirigida pelo diretor britânico Peter MacDonald. Depois de contatar a resistência afegã, Rambo entra na zona sitiada pelas tropas inimigas russas em defesa dos guerrilheiros afegãos. Algo totalmente impensado para a situação de hoje, em que o regime talibã é considerado um inimigo absoluto da “América.
Surpreendendo-nos novamente, para fechar a sua trilogia Jerry Goldsmith criou uma partitura totalmente diversa das suas duas primeiras incursões. Interpretada pela Hungarian State Opera Orchestra, e destacando fundamentalmente temas como “Afghanistan”, onde uma suave melodia descreve a sofrida e humilde vida naquele país, podemos dizer que esta trilha sonora tem um caráter mais reflexivo. Cordas, tendo de fundo a percussão, impregnam de dramaticidade a faixa “The Game”, que é outra interessantíssima composição desta trilha sonora. Ela é ouvida na cena em que Rambo participa de um estranho jogo do lugar: uma espécie de jogo de “pólo”, que no entanto utiliza a carcaça de um animal. As cordas com percussão e a seção de madeiras precedem o tema principal de Rambo, que ouvimos em uma fanfarra característica dos metais.
“Flaming Village” é pura música de ação e suspense, onde os metais e o piano em registro grave e a percussão, reforçam a ação. O sintetizador é acompanhado por uma nova apresentação do leitmotiv de Rambo, a puros metais, com trombones, trompetes, trompas e efeitos sonoros. O resultado é um faixa que oferece a audição de um ritmo musical totalmente renovado. A última música do álbum, “I’ll Stay”, descreve variações dos distintos temas principais da trilha, e oferece uma versão do tema principal de Rambo, com predomínio de violinos. Contudo, tanto esta faixa, como muitas outras pertinentes a esta terceira partitura, não foram utilizadas nas sequências finais do filme. Na maioria das cenas chave, o diretor decidiu substituí-las por musicas sacadas da segunda partitura. A edição do álbum que empregamos foi tirada dos masters originais, os quais nos permitiram apreciar o grande trabalho que Jerry Goldsmith criou pra esta terceira parte da saga.
Vinte anos depois da última aventura cinematográfica de Rambo, chegou um quarto filme roteirizado e dirigido pelo próprio Sylvester Stallone. Nele voltamos a encontrar John Rambo recolhido no norte da Tailândia, onde pilota um barco no rio Salween. Na fronteira com a Birmânia (Mianmar), a mais longa guerra civil acontece entre birmaneses e a tribo Karen, um conflito de quase 60 anos. Mas Rambo tem uma vida simples e solitária nas montanhas e selvas e há muito tempo desistiu de lutar, mesmo com médicos, rebeldes e refugiados passando por seu caminho – até que um grupo de missionários de direitos humanos o procura pedindo sua ajuda. O grupo logo é capturado, e um pastor contrata um grupo de mercenários para resgatá-los. Assim, o guerreiro solitário sabe o que deve fazer e concorda em levar os mercenários, rio acima, até a zona de guerra, onde viverá sua derradeira aventura (espero).
Para o senso comum, Brian Tyler era o natural herdeiro da saga de Rambo, pois já substituíra a partitura rejeitada do maestro Goldsmith para Timeline (2003). O próprio diretor Richard Donner, em suas próprias palavras, reconhecia o filme como um desastre, e numa desesperada tentativa de salvar a obra condenada, decidiu aumentar a ação e o movimento mexendo na montagem e na trilha sonora, que acabou ficando a cargo de Tyler. Este caso demonstra que em vinte anos ocorreram muitas mudanças no que se refere à trilha sonora original. Houve um natural processo de evolução – apesar de que seria melhor dizer involução, caracterizada por um contínuo processo de simplificação a que tem se submetido a arte de compor, quase prescindindo do uso de temas associativos (leitmotiv). Estes temas vêm sendo substituídos cada vez mais por um acúmulo de composições sem nexo, que além de não apoiarem a narração, põem sérias travas no desenvolvimento de si mesmas.
Neste sentido, Brian Tyler é capaz de se mover em um e em outro extremo, ainda que em algumas de suas partituras haja uma tendência descarada para a citada simplificação formal. Nada nega que este compositor seja um bom artesão de faixas de ação, como podemos escutar em Alien Vs. Predador – Requiem (2007), nos filmes da franquia Os Mercenários e especialmente em suas recentes incursões nos filmes da Marvel, para os quais compôs temas muito bons e consegue transmitir o sentido do ritmo com habilidade. Por isso nos surpreende que em Rambo Tyler não tenha conseguido oferecer um produto à altura das circunstâncias, capaz de manter a atenção na totalidade de sua audição. Deficiências a parte, não cabe dúvida, a inclusão em forma de homenagem do tema composto por Goldsmith para o belicoso herói, foi seu maior acerto. As aparições do leitmotiv de Rambo, executado em solo de trompete e violão, se mostram, nas mãos de Tyler, como os melhores momentos de nossa audição. O compositor aproveita este fato para ostentar nas sonoridades associadas ao protagonista, um novo motivo de cunho étnico executado pelas cordas e metais e outro em alternativa ao principal, que casam com perfeição com o caráter da música escrita por Goldsmith. Exemplos disso são as passagens “Rambo Theme” ou “Battle Adágio” com a aparição de uma voz feminina que nos recorda um dos primeiros bons trabalhos de Tyler, Os Filhos de Duna (Children of Dune, 2003, 93 min.).
À margem do que Tyler é capaz conseguir unindo sua música à de Goldsmith, temos que apreciar o esforço do compositor para dotar de certa personalidade as faixas de ação, algo que quase consegue em pontuais momentos, sendo o melhor deles a segunda faixa do álbum, “No Rules of Engagement”: Na citada música, Tyler se cerca de um feito que o saudoso e admirado maestro Goldsmith conseguia com facilidade assombrosa, manter o espectador assentado sem dar-lhe opção de outra coisa a não ser olhar atento a grande tela. Entretanto, a característica principal desta partitura é o uso e sua construção sobre a percussão contínua, pairando sobre as cenas quase que totalmente desconectada das nuances dramáticas. Em “The Compound”, que corresponde à sequência do resgate dos missionários, a orquestra está totalmente subjugada aos tambores e demais instrumentos percussivos que marcam um insistente ritmo com incursões de cordas em spizzicato no pior estilo Hollywoodiano, por intermináveis sete minutos e 46 segundos. “Searching for Missionaries”, igualmente enfadonho e extenso, nos apresenta a utilização da percussão de uma forma distinta, neste caso com a ajuda das cordas, para criar um ambiente misterioso e tenso.
O resultado dessa série de propostas triviais não é nada menos que a criação de uma partitura descomedidamente tumultuada, a anos-luz das excelências mostradas por Goldsmith quase duas décadas antes, não demonstrando, em sua maior parte, maiores virtudes que a simplória função de acompanhar as imagens. A partitura se mostra vulgar, previsível e monótona, apesar de ser pretensamente explosiva, Tyler se perde completamente em texturas que soam as mesmas sempre, provocando a indiferença absoluta à medida que a partitura não dá sinais de maior originalidade conceitual. Em definitivo, ouvir este trabalho só nos faz valorizar ainda mais os clássicos scores escritos pelo maestro Jerry Goldsmith, que constituem um fiel expoente da genial música de ação que ele nos deixou.
Carlos Alberto Bissogno
Como o compositor realiza sua trilha geralmente depois do filme estar pronto é de se notar que Brian Tyler ficou decepcionado com o trabalho final.
Rambo 4 é de longe o pior filme da série. O excesso de violência toma conta da tela e deixa de lado uma história que poderia ser melhor aproveitada se os produtores, bem como seu diretor, não tivessem tanta pressa em terminar. Não tem reviravoltas, não tem emoção, parece mais um Machete. E com um tempo de 1h20minutos entra na galeria de filme curtos e mal aproveitados como o Último Mestre do Ar.
Se Goldsmith estivesse vivo era um ótimo filme para usar as poderosas teclas de copiar e colar. Abraços.
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Saudades eternas do Goldsmith.Ele,Alan Silvestri,John Willians, Bernard Herrmann e Basil Poledouris.
Onde houve renovação destes mestres no Soundtrack atual ? Não ouço um que se destaque no presente quanto estes citados.
Está matéria,que por sinal está excelente,faz-me lembrar da dificuldade de encontrar estes vinis(quase impossível no Brasil à época) e dos compact discs que tinha que importar pagando vários obamas de tão caro que era.
Bom,pelo menos consegui a Trilogia Rambo (não quis comprar a composição do Brian Tyler) que faz-me voltar ao passado com uma sensação imensa de nostalgia.
Grande Abraço.
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Olha Luiz, vejo que vc. tem sorte, porque pra mim a dificuldade em comprar trilhas sonoras no Brasil continua na mesma, por sinal, pra ser franco, piorou e muito.
Pelo menos aqui em Curitiba, trilha nova continua sendo Flashdance, Fame, e um monte de novelas. Por sinal vc. tem que falar, trilha sonora de filmes, senão o vendedor ti mostra um monte de cds de novelas.
Eu vou em sites como saraiva, americanas, submarino e é uma tristeza, lembrando que toda semana tem novidade no mercado mundial, fico desanimado quando tento achar algo interessante.
Tem a http://www.cdpoint.com.br pra quem queima dinheiro.
Teve um tempo, no auge dos cds, que era possível conseguir boas trilhas, mas hoje em dia, só importando ou baixando lamentavelmente. Porém se vc., Luiz, tiver alguma dica de onde comprar, desde já agradeço.
Abraços.
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Amigo Leandro,infelizmente não tenho boas notícias,pois o mercado de cd está em extinção no Brasil.Antigamento comprava os meus cd´s em jojas como a Modern Sound,Bilboard,e com o saudoso amigo que tinha uma pequena loja no Centro da Cidade,Srº Manoel, que importava para mim.Realmente se quiser grandes trilhas somente pedindo na Cd Points ou Baixando como você mesmo citou.
Espero que tenha sorte garimpando em sebos de cd´s (não sei se na tua cidade possui),é onde encontro algumas pérolas de colecionadores que não querem mais por algum motivo.
Grande Abraço.
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Eu gostei da obra de Brain Tyler. Homenageou o antigo compositor. O simples supera o chamado encher linguiça .
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