Resenha de Blu-ray: WESTWORLD – PRIMEIRA TEMPORADA: O LABIRINTO


WESTWORLD – SEASON ONE
Produção: 2016
Duração: 619 min.
Direção: Vários
Elenco: Evan Rachel Wood, Thandie Newton, Jeffrey Wright, James Marsden, Ed Harris, Anthony Hopkins, Ben Barnes, Rodrigo Santoro, Luke Hemsworth, Talulah Riley, Tessa Thompson
Vídeo: 1.78:1 (1080p/AVC MPEG-4)
Áudio: Inglês (DTS-HD Master Audio 5.1), Português, Francês, Espanhol (Dolby Digital 5.1)
Legendas: Português, Inglês, Espanhol, Francês, etc.
Região: A, B, C
Distribuidora: Warner
Discos: 3 BD 50-GB
Lançamento: 16/11/2017
Cotações: Som: ****½ Imagem: ***** Série: **** Embalagem e Extras: **** Geral: ****½ 

SINOPSE
Baseada no longa homônimo dirigido por Michael Crichton em 1973, a série WESTWORLD é uma odisseia obscura sobre inteligência artificial e a evolução do pecado. São dias de fantasiosas brincadeiras no vasto e remoto Wild West Park, onde os convidados pagam altos valores para se tornarem a pessoa de seus sonhos durante as aventuras com os anfitriões androides. Mas, nos bastidores, algo está errado.

COMENTÁRIOS
Antes de BLADE RUNNER, O EXTERMINADOR DO FUTURO, GHOST IN THE SHELL e de obras recentes como EX MACHINA e HUMANS, houve WESTWORLD – ONDE NINGUÉM TEM ALMA (1973), filme no qual o falecido escritor Michael Crichton (JURASSIC PARK) estreou no cinema como diretor. Com argumento do próprio Chrichton, o longa nos apresenta Delos, um parque temático do futuro onde androides, réplicas perfeitas de seres humanos, realizam as fantasias dos visitantes. A ação se passa no Westworld, que como seu nome indica tem como tema o Velho Oeste norte-americano, e lá um pistoleiro vestido de negro, interpretado por Yul Brynner, se rebela e passa a caçar dois visitantes do parque. Provavelmente inspirado pelos pioneiros robôs animatrônicos da Disneylândia, o realizador criou um conceito original e interessante, mas que não se profundou muito em questões melhor desenvolvidas em obras posteriores sobre inteligência artificial.

Em 1976 foi lançada uma continuação inferior sem o envolvimento de Crichton, MUNDO FUTURO: ANO 2003, OPERAÇÃO TERRA, e em 1980 uma série de TV de curta duração, BEYOND WESTWORLD. De lá para cá a franquia parecia estar morta e enterrada, mas eis que em 2016 a HBO a ressuscitou em uma série com elevados valores de produção, que adapta e expande o conceito do longa de 1973, refletindo a evolução que o tema sofreu ao longo dos 43 anos que separam as duas obras. Os cérebros por trás da reimaginação de WESTWORLD são os showrunners, roteiristas e diretores de alguns episódios da série, Jonathan Nolan (irmão mais novo do diretor Christopher Nolan) e sua esposa Lisa Joy. Dando respaldo à dupla está J.J. Abrams como produtor executivo, mas pelo que me consta ele não teve envolvimento com o dia-a-dia da produção.

Quando soube do projeto desta série fiquei cético quanto à sua recepção, ainda mais porque ela estava sendo divulgada como sendo uma possível sucessora de GAME OF THRONES na HBO. Afinal, o filme original é cult mas não chega a ser um clássico, e o tema da inteligência artificial em corpos mecânicos ou humanoides, apesar de caro à ficção científica e possuir entusiastas, nem de longe tem o apelo da obra de fantasia criada por George R.R. Martin – uma bem dosada mistura de intrigas palacianas em busca do poder, sexo e delirante fantasia. Assim, para minha surpresa o programa estreou e teve ótima recepção de crítica e de público, inclusive no Brasil, e foi renovado pela HBO para a segunda temporada, que estreia em 2018. Claro, sendo uma série da HBO espere por violência, nudez e sexo, porém essas “marcas registradas” do canal pago não surgem de forma gratuita, inserindo-se de forma fluída e orgânica na narrativa.

No primeiro episódio notamos que se trata de uma produção diferenciada já a partir da elaborada sequência dos créditos iniciais, onde vemos esqueletos de anfitriões (como os androides da série são chamados) em atividades como cavalgar, fazer sexo e tocar, ao piano, o evocativo tema musical de Ramin Djawadi (leia nossa resenha da trilha sonora AQUI). Logo em seguida somos apresentados à “alma da série”, a anfitriã Dolores, interpretada de forma sincera e simpática por Evan Rachel Wood. Acompanhando o dia a dia da filha de um fazendeiro, vemos como os anfitriões vivem no Westworld: presos em histórias repetitivas criadas e programadas pelos técnicos do parque, nas quais os visitantes participam como se estivessem numa quest de um jogo RPG. Assim, os androides, sem saberem que fazem parte de uma simulação e programados para não fazer mal a criaturas vivas, são humilhados, brutalizados, estuprados e acabam sendo mortos pelos humanos ou até por outros anfitriões. A maioria é restaurada e volta para o parque, sem nenhuma lembrança dos acontecimentos traumáticos. Os que eventualmente manifestam algum tipo de comportamento anômalo são “aposentados” e armazenados numa câmara fria.

Nos primeiros episódios ficamos conhecendo o mundo do Velho Oeste e os bastidores subterrâneos do parque, onde a gerência, os programadores e os técnicos se ocultam, acompanhando o que se desenrola na superfície e consertando os anfitriões mortos ou gravemente feridos. Além de Dolores, também somos apresentados à maioria dos personagens principais, como o programador Bernard (Jeffrey Wright), o Dr. Ford (Anthony Hopkins), único criador do parque ainda vivo, os amigos William e Logan (Jimmi Simpson e Ben Barnes), o caçador de recompensas Teddy (James Marsden) e, numa inversão em relação ao filme original, o “Homem de Preto”, sádico pistoleiro interpretado por Ed Harris que aqui é um dos visitantes humanos. A rotina do parque começa a mudar depois de uma atualização na programação dos anfitriões, feita pelo próprio Ford, que faz com que alguns deles, como Dolores, passem a ter lembranças e vislumbres de eventos traumáticos e mesmo fiquem violentos.

Apesar de muito da trama envolver Dolores, parte importante se refere à prostituta Maeve (Thandie Newton, em interpretação que lhe valeu indicações ao Emmy e ao Globo de Ouro), já que ela será a chave para desdobramentos que virão mais para o final da primeira temporada. É notável como a maioria dos hospedeiros se revela muito mais humana que  personagens de carne e osso –  um recurso inteligente dos roteiristas, a fim de nos conectarmos à jornada rumo à consciência que os androides percorrem nestes 10 primeiros episódios. Outra sacada inteligente da série é apresentar, de forma imperceptível para o espectador, eventos ocorridos no passado como se estivessem acontecendo no mesmo período da trama principal. Além disso, nessas ocasiões, alguns dos personagens que vemos na tela não são quem pensamos ser. Esperto e intrigante, e mais não dá pra revelar sem estragar as reviravoltas que a série nos reserva.

É necessário fazer uma menção honrosa ao elenco (nele incluído o brasileiro Rodrigo Santoro como o bandoleiro Hector Escaton) que, de modo geral , está muito bem, conseguindo dar nuances variadas a seus personagens. Muitos certamente serão mais desenvolvidos na segunda temporada, onde, pelo que vislumbramos no episódio final, também visitaremos outros parques de Delos. Enfim, ao contrário do que imaginava, WESTWORLD, a série, consegue engajar o espectador em sua narrativa e mantém o interesse pelas surpresas que ela reserva para 2018. Até lá, vale a pena revisitar esta intrigante e instigante primeira temporada, que em home video recebeu o adequado subtítulo de “O Labirinto”.

SOBRE O BD
A Warner lança no Brasil a primeira temporada de WESTWORLD com o habitual capricho que dispensa às séries premium da HBO, em suas tiragens iniciais em Blu-ray. Os três discos de dupla camada possuem a mesma autoração feita para o lançamento mundial, que inclui legendas e dublagem PT-BR. Portanto, o box lançado em novembro no Brasil, antecedendo a estreia da segunda temporada na HBO, que deverá ocorrer em meados de 2018, é tecnicamente idêntico ao norte-americano e europeu. As diferenças das edições, como de hábito, estão na embalagem digipack, que aqui é tamanho DVD. A embalagem é encaixada numa luva de cartolina dura de ótima qualidade, cuja frente estampa em relevo a arte oficial da temporada em impressão metalizada. A lombada também é em em relevo, e trás temos as informações do box, que além de um encarte com o resumo dos episódios e do material extra, inclui um interessante livreto: um falso guia corporativo para empregados do Westworld, impresso em papel de boa qualidade e traduzido para o português.

Imagem

As transferências 1.78:1 (1080p/AVC MPEG-4) dos episódios são excelentes, e representam um considerável upgrade de qualidade em relação aos que vimos na TV e em streaming. WESTWORLD é uma das séries mais caras já produzidas pela HBO, e foi totalmente rodada em película 35mm. A bonita e detalhada imagem fílmica permite que apreciemos os figurinos caprichados, o elaborado trabalho de maquiagem e o ótimo desenho de produção, que alterna os ambientes do Velho Oeste com as instalações futuristas do parque. Nas tomadas externas, as grandiosas paisagens remetem aos clássicos faroestes de John Ford, sendo que a paleta de cores varia dos tons quentes do western para a frieza azulada dos ambientes estéreis da administração e manutenção. Os níveis de preto são fortes e profundos, dando um grande sendo de profundidade à imagem.

Som

Ao contrário de GAME OF THRONES, que em Blu-ray passou a receber áudio Dolby Atmos de última geração, WESTWORLD mantém o idioma original em faixas lossless DTS-HD Master Audio 5.1, mas que atendem perfeitamente aos propósitos da série. Além de reproduzir diálogos, música e efeitos sonoros com grande fidelidade, a mixagem cria um ambiente sonoro imersivo e com grande senso de espacialidade, destacando o excelente sound design. As demais opções de áudio (português, francês e espanhol) estão disponíveis em Dolby Digital 5.1, e temos legendas em PT-BR e vários outros idiomas. Os menus pop up e principais, estes animados com fundos da série, estão disponíveis apenas em inglês, com os comandos de configuração e navegação localizados em sua parte inferior.

EXTRAS
Os suplementos de WESTWORLD não são muito extensos, e boa parte deles ficam no nível de divulgação para a imprensa. De qualquer maneira, neles encontramos interessantes informações sobre o processo de criação e os bastidores da produção. Todos os vídeos estão em 1080p, com áudio original em inglês e opção de legendas em português. Como os menus estão apenas em inglês, mantive o título original dos vídeos:

Disco 1

  • About the Series (2:11 min.) – Curta introdução à série que conta com a participação dos atores Thandie Newton, Evan Rachel Wood e James Marsden, bem como dos produtores Jonathan Nolan, Lisa Joy e J.J. Abrams;
  • An Invitation to the Set (2:14 min.) – Apesar do título, temos aqui uma segunda introdução à série, com alguns novos participantes;
  • The Big Moment (3:49 min.) – Neste extra são destacadas duas cenas importantes da temporada;
  • Welcome to Westworld (7:41 min.) – Uma terceira e mais longa introdução à série, incluindo cenas de bastidores do elenco e da equipe em ação;
  • Realize the Dream: The First Week on the Set of Westworld (11:20 min.) – Ótimo featurette de bastidores, que se destaca por fugir do padrão de material de divulgação;
  • Imagining the Main Title (14:06 min.) – Um dos destaques dos extras, este featurette trata da criação da inspirada abertura da série, trazendo depoimentos de Nolan, Joy e do compositor Ramin Djawadi, entre outros.

Disco 2

  • Reality of A.I.: Westworld (4:29 min.) – Nolan, Joy, Abrams e membros do elenco falam sobre robôs e inteligência artificial;
  • The Big Moment (4:33 min.) – Aqui são destacadas mais três cenas importantes da temporada e seu impacto nos personagens;
  • Gag Reel (1:36 min.) – Pequeno vídeo que alterna cenas sérias com erros engraçados de gravação;

Disco 3

  • The Big Moment (6:12 min.) – Mais duas cenas importantes, agora dos episódios finais, são aqui abordadas;
  • The Key to the Chords (8:03 min.) – Nolan, Joy e Djawadi discutem o uso recorrente do piano mecânico (pianola) reproduzindo canções conhecidas e como simbolismo;
  • Crafting the Narrative (29:15 min.) – Por fim temos o melhor e mais longo extra, onde Nolan e Joy comentam a série durante cenas selecionadas do episódio final da primeira temporada.

Jorge Saldanha

2 comentários sobre “Resenha de Blu-ray: WESTWORLD – PRIMEIRA TEMPORADA: O LABIRINTO

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