Na Trilha: Alguns Sagrados Ensinamentos dos Grandes Mestres


O processo de composição musical para cinema – seja longa, curta, publicitário, documentário, etc – é um exercício único de precisão, bom senso, versatilidade, paciência e talento. Em alguns casos, também é importante uma boa dose de bom humor, de experiência, e até de fé… E como a fé move montanhas, o compositor nunca perde a esperança e a paixão por sua inclemente mas apaixonante profissão. Afinal, a música é o elemento “invisível” da narrativa cinematográfica e, portanto, o mais difícil de ser discutido. É o componente menos tangível de todos os envolvidos na mais coletiva das formas de composição. Por isso, sempre antes de iniciarmos o sagrado trabalho de criação musical, oramos com os ensinamentos dos grandes mestres (ou talvez profetas ?):

“Porque um músico treinado abraçaria uma carreira que pede a exatidão de um Einstein, a diplomacia de um Churchill, e a paciência de um mártir ? Ainda assim, depois de compor 350 trilhas, eu não consigo pensar em outra forma musical que ofereça tanto desafio, excitação e demanda criativa em colocar a música para funcionar.”
Victor Young (1900-1956) – Entre suas centenas de obras estão “Os Brutos Também Amam”, “Por Quem os Sinos Dobram”, e ainda canções como “Stella by Starlight” e “When I fall in love”.

“É quase impossível fazer filmes sem música. O cinema precisa do cimento da música. Eu nunca vi um filme melhor sem ela. Música é tão importante quanto a fotografia”.
“Eu passei minha carreira inteira combatendo ignorância”.
Bernard Herrmann (1911-1975) – Figura mítica, compositor preferido de Hitchcock, criador de obras-primas da música cinematográfica como “Um Corpo Que Cai”, “Psicose”, “Cidadão Kane”, “Taxi Driver”, etc.

“Eu vejo o diretor sempre como um código secreto a ser desvendado.”
Danny Elfman – Criador de referências como “Batman”, “Edward Mãos de Tesoura”, “Marte Ataca!”, “Homem-Aranha”, o tema de “Os Simpsons”, e vários outros.

“O maior problema é tomar a decisão inicial sobre a evolução musical do filme. Você tem que decidir o que a música deve fazer”.
“Eu realmente acredito que nas circunstâncias ideais a música deveria ser um personagem”.
Elmer Bernstein (1922-2004) – Mestre que já fez literalmente de tudo, desde “Os Dez Mandamentos”, “Sete Homens e um Destino”, “O Sol é para Todos”, “Os Caçafantasmas”, “O Homem que Fazia Chover”, etc.

“Presumo que pessoas criativas são relutantes em admitir seu sofrimento no processo de criação. Mas eu vejo o sofrimento como uma parte inescapável da experiência.”
“Não há uma trilha que eu tenha terminado exatamente do jeito que eu originalmente escrevi. Você tem que ouvir as sugestões do diretor, ser capaz de fazer as mudanças e ainda assim, manter-se constantemente criativo.”
Jerry Goldsmith (1929-2004) – Sua carreira foi impressionante. Um dos compositores mais produtivos, criador de “Jornada nas Estrelas – O Filme”, “Alien”, “Gremlins”, a série de TV “Os Waltons”, “Mulan”, etc.

“A Música deve estar sincronizada com a ação ? Sim e Não.”
“A função da música não é ilustrar, mas completar o efeito psicológico.”
“Aparentemente só um compositor sabe que leva-se tempo pra escrever música.”
Miklós Rozsa (1907-1995) – Grande mestre húngaro dos anos 1940 e 1950, compositor dos clássicos “Quando Fala o Coração”, “Quo Vadis”, “Ivanhoé”, “Ben-Hur”, etc.

“Eu não sei quem começou com essa teoria de que a melhor trilha é aquela que você não nota, mas isso não é verdade.”
“Nós tentamos fazer o inesperado, algo que não é clichê. Às vezes você pode fazê-lo, às vezes não…”
“Boa música pode melhorar um filme bom, mas não pode fazer de um filme ruim, um bom filme. Nós compositores não somos mágicos. Nós escrevemos música.”
Henry Mancini (1924-1994) – Referência obrigatória, criativo compositor de “Bonequinha de Luxo”, “Pantera Cor-de-Rosa”, “That´s Entertainment”, “Victor ou Victoria”, etc.

“Mesmo que você particularmente não goste da música, você pode reconhecer a sua eficiência no filme.”
Thomas Newman – Oriundo de uma família de grandes compositores, já é considerado um ícone contemporâneo, criador das trilhas de “Tomates Verdes Fritos”, “Perfume de Mulher”, “Beleza Americana”, “Skyfall“, entre outras.

“Se Wagner tivesse vivido neste século (20) ele teria sido o compositor número 1 de trilhas sonoras.”
“Há uma velha crença neste negócio de que uma boa trilha é aquela que você não escuta. Como pode ser boa, se você nem a nota??”
Max Steiner (1888-1971) – Austríaco, o primeiro dos grandes mestres, compôs “King Kong”, “E o Vento Levou”, “Casablanca”, entre centenas de outras obras.

“Meus primeiros filmes foram comédias leves ou de costumes que requeriam trilhas musicais singelas que eram facilmente criadas, um gênero que eu nunca abandonei completamente mesmo quando eu fui trabalhar com filmes muito mais importantes e com grandes diretores.”
“Na verdade, as pessoas estão pouco preocupadas com o elemento musical quando estão vendo um filme, exceto quando a música é bem mixada, ou quando é particularmente enfatizada, como nos filmes de Sergio Leone, por exemplo, e uns poucos outros, quando a música realmente é ouvida.”
Ennio Morricone – Italiano, cultuado compositor de “Era Uma Vez na América”, “A Missão”, “Cinema Paradiso”, etc.

“(A melodia) …veio rápida à mente, quando veio, mas eu estava preocupado se realmente ela viria. Eu tinha de sexta a segunda de manhã para aparecer com algo imortal, afinal, você não faz algo imortal todo dia.”
“Dizer que a trilha sonora não é pra ser ouvida é como dizer que respirar só é útil quando você não sabe que está respirando. A música no cinema é utilitária, bem como várias coisas são e algumas delas são belíssimas por si só. Um bule é feito para uma utilidade, mas também pode ser uma obra de arte.”
David Raksin (1912-2004) – Grande compositor de clássicos como “Laura”, “Assim Estava Escrito”, e influenciador e professor de muitos compositores atuais). Numa passagem quase bíblica, Raksin, durante a produção do filme “Lifeboat” (1944), foi avisado que o diretor (Hitchcock) não queria música no filme, já que este se passava num barco salva-vidas em alto mar, e que perguntara: De onde viria a música? Raksin então disse: “Peça ao Sr. Hitchcock para explicar de onde vêm as câmeras, que eu contarei a ele de onde vem a música.”

Bíblias:
Listening to Movies (Fred Karlin)
The Score (Michael Schelle)
Settling the Score (Kathryn Kalinak)
Music for the Movies (Tony Thomas)

Tony Berchmans
Compositor, Pianista, Autor do Livro “A Música do Filme” e criador do projeto CINEPIANO

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