Resenha de Trilha Sonora: NOCTURNAL ANIMALS – Abel Korzeniowski


nocturnal-animals-cdMúsica composta e regida por Abel Korzeniowski
Selo: Silva Screen
Formato: CD, Vinil
Lançamento: 18/11/2016
Cotação: star_4_5

Uma dos filmes independentes mais comentados do último ano, o drama de suspense Animais Noturnos (Nocturnal Animals, 2016) conta a história de Susan (Amy Adams), uma bem sucedida, porém infeliz, dona de uma galeria de arte em Los Angeles. Certo dia, ela recebe um manuscrito do livro prestes a ser publicado de seu ex-marido, Edward (Jake Gyllenhaal). Intitulado Animais Noturnos, a obra narra a trágica história de Tony Hastings (também Gyllenhaal), que leva a esposa (Isla Fisher) e a filha (Ellie Bamber) para tirar férias, porém a família passa a correr perigo nas mãos de uma gangue liderada pelo perigoso Ray Marcus (Aaron Taylor-Johnson). Enquanto lê o livro, Susan começa a identificá-lo como uma metáfora para seu casamento fracassado com Edward, e para os traumas que ambos sofreram. Elogiado pela crítica, este é o segundo filme dirigido pelo bem sucedido designer de moda Tom Ford, após Direito de Amar (A Single Man, 2009), que conquistou uma indicação ao Globo de Ouro para o score do compositor polonês Abel Korzeniowski. Assim, para seu novo filme, Ford optou por trazer seu novo músico favorito de volta, para mais uma bem sucedida parceria.

O compositor, nos últimos anos, se tornou uma das vozes mais excitantes a surgir no cinema, com suas trilhas orquestrais extremamente (e corajosamente) expressivas. Tendo conquistado duas indicações ao Emmy por seu excelente score para a série gótica Penny Dreadful, Korzeniowski retorna ao cinema americano com um trabalho que se mantém fiel ao seu estilo clássico. Como de costume, a trilha foi orquestrada e regida pelo próprio compositor, e faz uso de uma orquestra gravada em Londres, com ênfase em cordas, e participações apenas ocasionais de metais, madeiras e piano.

De certa forma, Korzeniowski parece ter se inspirado em uma das maiores trilhas da história do cinema, Um Corpo que Cai (Vertigo, 1959), de Bernard Herrmann. Este clássico suspense de Alfred Hitchcock é uma história sombria que combina mistério e suspense com romance, loucura e obsessão, todas estas complexas facetas bem representadas pela música de seu (então) compositor preferido. Korzeniowski segue pelo mesmo caminho, e usa a força de suas melodias orquestrais para retratar tanto o suspense mais direto do filme, quanto o malfadado relacionamento entre Susan e Edward, e a dor que ele ainda provoca em ambos.

Tal conexão entre as duas trilhas fica ainda mais evidente no tema principal, relacionado a Susan. Ouvido logo na primeira faixa, ele lembra um pouco a clássica Scene d’Amour, de Um Corpo que Cai, embora contando com as mesmas orquestrações extravagantes que qualquer um que ouviu outros trabalhos do polonês, irá reconhecer. Uma ótima introdução para o disco e o filme. Depois, tal tema será ouvido em cordas dramáticas em Restless, enquanto, em City Lights, ele ganha elementos de tensão. Já em The Field, ele aparece de forma invertida: as três notas principais que formam o tema são ouvidas de trás para frente, uma inteligente indicação de que, naquele ponto, a narrativa vista no livro espelha a própria vida de Susan.

A criatividade musical de Korzeniowski é evidente ao longo de toda a trilha. Exhibition, Crossroads e Mothers, por exemplo, trazem uma escrita tensa para cordas, com cada uma delas oferecendo um diferencial: a primeira é pontuada pelo que parece ser uma respiração ofegante, quase sexual, enquanto a última possui tensos ostinatos de violinos, a típica “música de investigação”, aqui feita de forma surpreendente e interessante. Já a ótima Off the Road acompanha os perigos sofridos por Tony e sua família nas mãos da gangue dentro do livro, com texturas tensas de cordas interpretando dois ritmos distintos, quase opostos. Estranhamente, me lembrou uma versão orquestral das texturas eletrônicas que Hans Zimmer criou para os momentos de maior suspense em Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge (The Dark Knight Rises, 2012).

Em A Solitary Woman, Korzeniowski resolve se inspirar na faceta mais polêmica da carreira de James Horner, ao fazer uma breve referência a um motivo para piano e cordas de seu próprio score para Direito de Amar. É possível que isso tenha sido um pedido do diretor Ford, como forma de ligar seus dois longas até o momento, mas, de toda forma, essa referência conecta o protagonista interpretado por Colin Firth naquele filme ao de Amy Adams neste, tal como Horner gostava de reprisar motivos de trilhas anteriores suas para retratar conceitos similares em diferentes filmes. Seja como for, tal motivo é ouvido novamente em Revenge, desta vez em solos de cello.

Mais adiante, Table for Two, ao fim do disco, é também uma das melhores faixas do mesmo. Trazendo tanto o tema ouvido em The Field quanto o de Susan em orquestra e piano, a faixa mostra que Korzeniowski, diferentemente da maioria dos compositores trabalhando em Hollywood atualmente, não teme o melodrama e nem extrair emoções grandiosas de sua orquestra. Por fim, o disco conclui com duas faixas bônus: uma versão alternativa de The Field e com a melancólica e misteriosa Fairy Tale.

Embora o filme possua em torno de duas horas, a trilha sonora não é ouvida em muito mais que os cerca de trinta minutos disponíveis no disco. Afinal, tão importante quanto saber o que escrever é onde são os momentos exatos em que a trilha deve entrar e sair, para maximizar o seu impacto e, ao mesmo tempo, não prejudicar o longa com música de mais ou de menos, uma lição que compositores como Jerry Goldsmith e John Barry conheciam muito bem. De toda forma, Animais Noturnos é uma das mais belas e inteligentes trilhas de 2016. Uma indicação ao Oscar seria um merecido reconhecimento ao imenso talento de Korzeniowski com dramas.

Faixas:

1. Wayward Sisters  2:55
2. Exhibition  1:12
3. Restless  1:21
4. A Solitary Woman  2:34
5. Off the Road  4:26
6. Revenge  3:15
7. The Field  2:50
8. Crossroads  2:55
9. Mothers  2:30
10. City Lights  1:14
11. Table for Two  3:23
12. The Field (Alt. Version)  2:47
13. BONUS TRACK: Fairy Tale  2:14

Duração: 33:36

Tiago Rangel

7 comentários sobre “Resenha de Trilha Sonora: NOCTURNAL ANIMALS – Abel Korzeniowski

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  6. A trilha sonora do filme tambem é boa. Amy Adams é uma atriz muito carismática e Professional, se entrega a cada um dos seus projetos. A chegada é umo dos filmes com Amy Adams muito bons, fez uma atuação maravilhosa. O filme tem uma grande historia e acho que o papel que ele interpreta caiu como uma luva, sem dúvida vou ver este filme novamente.

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