Resenha de Trilha Sonora: MAZE RUNNER – THE SCORCH TRIALS – John Paesano


Maze runner scorch trials CDMúsica composta por John Paesano
Selo: Sony Masterworks
Catálogo: 88875136292
Lançamento: 02/10/2015
Cotação: star_3_5

Em alta no cinema americano, as adaptações cinematográficas de livros para o público jovem (subgênero conhecido como YA – Young Adult, ou Jovens Adultos) ganharam mais um exemplar com Maze Runner: Prova de Fogo (Maze Runner: The Scorch Trials, 2015), continuação do longa do ano passado. Na trama, adaptada da obra escrita por James Dashner, depois de escaparem do labirinto do primeiro filme, o adolescente Thomas (Dylan O’Brien) e seus amigos são capturados pela organização conhecida como WCKD (ou CRUEL, na tradução brasileira), que quer testá-los para encontrar a cura para a praga que dizimou a humanidade. Entretanto, eles conseguem escapar e devem seguir numa longa jornada pelo mundo devastado para encontrar um refúgio, enquanto são caçados pelos capangas da CRUEL, liderados pelo traiçoeiro Janson (Aidan Gillen, que parece estar se especializando em viver figuras pouco confiáveis e envolvidas em conspirações, depois de seu papel em Game of Thrones). Além de boa parte do elenco, retornam também para a continuação o diretor Wes Ball e o compositor John Paesano.

Antes mais conhecido por compor para animações adaptadas de Como Treinar seu Dragão (How To Train Your Dragon, 2010), Paesano ganhou sua grande oportunidade em Hollywood com o primeiro Maze Runner. De lá para cá, sua carreira tem seguido uma curva ascendente, com trabalhos elogiados para o drama esportivo Quando o Jogo Está Alto (When the Game Stands Tall, 2014) e para a série da Netflix Demolidor (Daredevil, 2015). Para Maze Runner – Correr ou Morrer (The Maze Runner, 2014), escrevi um review que hoje reconheço que foi duro demais, e muito focado na suposta “falta de originalidade” de Paesano. Porém, muita gente parece ter gostado, então, para me preparar para ouvir a trilha do segundo, dei uma nova chance ao disco, e vi que não era tão ruim assim, com alguns ótimos momentos, e a tal falta de originalidade não me incomodando (tanto). E, como sou totalmente a favor da descoberta de novos talentos em Hollywood, fiquei feliz em descobrir que, no score do segundo, o compositor conseguiu se superar.

A primeira coisa que deve ser dita para os trabalhos de Paesano para a franquia é que eles não são o típico score repleto de temas e motivos associados aos personagens que costumam ser o padrão. O compositor, na verdade, está mais preocupado em acompanhar com sua música a jornada pelos olhos dos personagens, descrevendo com sua trilha as situações pelas quais eles passam. Como tais situações não são das mais agradáveis (variando de fugas, caminhadas pelo deserto e encontros com zumbis, chamados de cranks na mitologia da saga), então a trilha é constantemente pesada e sombria, através de uma combinação de orquestra, percussão e eletrônicos. Sua abordagem não é a típica “tal personagem é acompanhado por tal melodia”, mas sim dizer sutilmente ao espectador o que Thomas e seus companheiros estão sentindo ao confrontar perigos tão sinistros.

Porém, se no longa tal abordagem funciona bem, no disco isso pode atrapalhar um pouco a audição. O clima constantemente pesado, com a possibilidade do surgimento de perigos a todo instante, pede uma trilha igualmente sombria e ameaçadora, mas que também não é lá muito agradável de ouvir. Muitas das faixas do disco nada mais são do que texturas de suspense, a cargo de cordas e eletrônicos, que conseguem sugerir a atmosfera repleta de ameaças do mundo pós-apocalíptico de Thomas, mas que, simplesmente, não são muito interessantes de se ouvir no disco.

Mesmo assim, aqui e ali, ainda dá para ouvir algumas ideias interessantes de Paesano. A primeira faixa, Opening, inicia bem o disco, indo de sintetizadores atmosféricos para o mais puro terror, com orquestrações dissonantes e explosões de metais, e finalizando com uma grandiosa variação do tema principal, introduzido no primeiro filme (e o único a ser mais ou menos recorrente aqui) – e, claro, descrevendo bem o caótico início do longa. Mais à frente, The Farm acerta com uma melodia dramática, reminiscente do Marco Beltrami de scores como Presságio (Knowing, 2009). Enquanto isso, The Mall, em meio à sua melodia atmosférica para cordas e sintetizadores, surpreende com uma rápida aparição surpresa das primeiras notas de um dos temas de Wyatt Earp (idem, 1994), de James Newton Howard, em 1:57. Não sei se foi influência da temp track, uma citação deliberada de Paesano ou uma simples coincidência, mas, para um ouvinte experiente, tal aparição fica como um pequeno easter egg na trilha. E, se alguém não conseguir pegá-la da primeira vez, não se preocupe: você terá outra chance na marca de 2:21 min. em The Source.

Entretanto, é nas faixas de ação que esse score realmente supera o outro. A primeira delas, You’re Not Getting Out of Here, é bastante tensa, com ataques de cordas, percussão e metais. Aqui, a influência de Beltrami fica ainda mais evidente, com o cue lembrando o estilo do sujeito em seus scores para os filmes da série Duro de Matar (Die Hard), por exemplo. Mais para a frente, Cranks! é melhor do que qualquer faixa de ação do primeiro disco, com uma melodia enérgica e potente para toda a orquestra, que não deixa o ritmo e a tensão caírem ao longo de seus quase cinco minutos. Lights, por sua vez, tem uma ótima construção, indo de uma atmosfera incerta e culminando num caótico final para metais e percussão. O grande destaque mesmo, porém, é Leaning Tower Of Scorch, que acompanha uma das cenas mais memoráveis do longa, uma perseguição em um prédio tombado. Paesano acompanha a sequência com uma melodia poderosa que, durante quase sete minutos, vai ficando progressivamente mais tensa, e mais enérgica, rumo a um finale potente para toda a orquestra.

Quem também marca presença na trilha é o drama. Goodbye, por exemplo, é uma faixa melancólica, que traduz bem os sentimentos de perda e tragédia, conduzida por cordas, piano e leves participações de coro feminino. Outro destaque também é a bonita Chat with Brenda, cuja melodia remete a Chat with Chuck, do disco do primeiro filme – o que faz total sentido, no contexto dos dois longas. No meu review do score anterior, reclamei da grande semelhança com o estilo de Thomas Newman, e a faixa Chat with Chuck foi o principal ponto do meu argumento. Por outro lado, Paesano não foi nem o primeiro e nem vai ser o último a emular Newman, e, para ser sincero, o estilo do filho mais famoso de Alfred é tão bom que, quando bem utilizado, acaba rendendo belos cues, como é o caso aqui.

Na verdade, conforme o disco e o filme se aproximam de seu final, o drama e a melancolia se tornam mais proeminentes, como se vê em faixas como The Cure e A Home for Us. Porém, ainda há tempo para mais uma reviravolta, iniciando-se com a dramática Memories, que, apesar do início sutil, constrói a tensão até um final potente. Hello Thomas é repleta de suspense e ameaça, e Tired of Running é a última faixa de ação e, como tal, traz momentos grandiosos e climáticos, com toda a orquestra e até um coro. Já What’s Next encerra o disco de forma épica, num crescendo de orquestra, percussão e até um violino solo, já armando o terreno para o terceiro (e, até agora, último) filme da saga, A Cura Mortal (The Death Cure), que sai em 2017.

Com mais altos do que baixos, a trilha do segundo Maze Runner mostra um jovem compositor em ascensão, e com potencial de chegar a voos cada vez mais altos. Talvez ele devesse tirar um pouco da “gordura” do seu disco, pois muitas faixas não acrescentam grande coisa à audição. Mesmo assim, não podemos esquecer que gente como Paesano, Andrew Lockington, Joe Kraemer, Roque Baños, Gustavo Dudamel e Matthew Llewelyn, entre outros, são o futuro da grande música de cinema orquestral e, dessa forma, eles tem meu total apoio e torcida.

Faixas:

1. Opening (03:58)
2. Your New Lives (02:59)
3. Follow Me (02:44)
4. The Farm (03:28)
5. You’re Not Getting Out Of Here (06:48)
6. The Mall (05:30)
7. Cranks! (04:38)
8. The Scorch (02:31)
9. Goodbye (03:20)
10. Lights (03:45)
11. Uninvited Guest (05:00)
12. Leaning Tower Of Scorch (06:53)
13. Friends (01:58)
14. The Source (03:00)
15. The Cure (02:16)
16. Chat With Brenda (02:04)
17. A Home For Us (01:39)
18. Memories (02:44)
19. 439 (04:39)
20. Tired Of Running (03:11)
21. What’s Next (02:56)

Duração total: 76:01

Tiago Rangel

2 comentários sobre “Resenha de Trilha Sonora: MAZE RUNNER – THE SCORCH TRIALS – John Paesano

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