Resenha: DAWN OF THE PLANET OF THE APES – Michael Giacchino (Trilha Sonora)


DOTPOTA_CDMúsica composta por Michael Giacchino
SeloSony Classical
Catálogo: 308826
Lançamento: 29/07/2014
Cotação: ***½

O Planeta dos Macacos, de 1968, teve uma brilhante trilha sonora composta pelo genial Jerry Goldsmith, que misturava com habilidade orquestrações exóticas e dissonantes com instrumentos de percussão, num score que complementava o filme de maneira perfeita. Após o clássico original, houve diversas continuações, um lamentável remake em 2001 e um mais bem sucedido prequel da saga dez anos depois. Acompanharam todos esses filmes scores que não se igualavam ao de Goldsmith, apesar dos esforços de compositores como Danny Elfman e Patrick Doyle. Enfim, este ano teremos uma continuação do filme de 2011, intitulada no Brasil Planeta dos Macacos – O Confronto, com música composta por um dos mais notáveis “seguidores” de Goldsmith, Michael Giacchino.

Na direção do filme está Matt Reeves, cujas colaborações anteriores com o compositor ítalo-americano já renderam dois dos seus mais distintos scores até hoje: o ótimo cue Roar!, para os créditos finais de Cloverfield – Monstro, e Deixe-Me Entrar, uma trilha até bem intencionada, mas prejudicada por ser simplesmente aborrecida (ainda mais com um álbum extremamente longo e de tediosa audição). Porém, para este novo filme de Reeves, Giacchino nos entrega um score que, simultaneamente, é diferente do que os anteriores que ele vinha compondo, ao mesmo tempo em que contém semelhanças demais com obras anteriores suas.

Como grande fã de Goldsmith, Giacchino nos traz uma trilha que serve como “homenagem” ao mestre, ao mesmo tempo em que mantém uma distância segura para simplesmente não repetir o que ele fez quarenta e seis anos antes. Esta homenagem pode ser vista na forma como ambos os compositores utilizam a percussão, ou seja, de uma forma tribal, exótica, de maneira a representar a sociedade organizada em que vivem os macacos (que, no filme de Reeves, ainda está em formação). As duas trilhas acertam ao evocar esse exotismo, embora Goldsmith vá um pouco mais fundo nesta ideia.

Giacchino, por sua vez, não se foca apenas nos aspectos mais agressivos da sociedade dos macacos. Na verdade, ele entrega um belo tema principal para o longa, que busca retratar sua temática de paz/guerra e tolerância/ódio, representadas no filme pelo conflito entre macacos e humanos. Este tema é o mais emocional composto por Giacchino desde o Letting Go da trilha de Super 8, e, num filme cuja narrativa é construída através de uma guerra que se avizinha, funciona como um hino pela paz entre as espécies, mais ou menos como o Hymn for the Fallen da trilha de O Resgate do Soldado Ryan.

Esse tema de Giacchino aparece primeiramente interpretado de forma solene pela orquestra completa em The Great Ape Processional, e depois de maneira mais sutil por um piano, na mesma faixa. Uma das habilidades do compositor é a de transferir seus temas de uma orquestra completa para um instrumento solo (e vice-versa), sem que ele perca a identidade ou a força. Assim, essa melodia reaparece algumas vezes no álbum, e, contrastando com sua grandiosa apresentação inicial, ela retorna de maneira mais sutil, triste e melancólica em faixas como Past Their Primates e Monkey See, Monkey Coup, interpretada por harpa, piano e cordas. Porém, a melhor aparição deste tema está ao fim do disco, na conclusiva e grandiosa Primates for Life, e depois com orquestra e coral em Planet of End Credits. Nestas duas faixas, as melhores do disco, a interpretação da melodia não é nada menos do que épica.

Este tema principal tem como base um acorde de três notas, inicialmente ouvido logo ao início do disco, em Level Plaguing Field, a cargo de um piano solo e, depois, do coro. Em seguida, reaparece em um papel de protagonismo em faixas como Along Simian Lines e The Apes of Wrath, além de uma dramática interpretação com toda a orquestra e coral ao fim de Gorilla Warfare. Ele passa uma bem-vinda sensação pós-apocalíptica, de devastação, e serve como ponto de partida para toda a música do filme.

Assim, é uma pena que a música de Giacchino para esse filme acabe prejudicada por alguns problemas. O primeiro é uma incômoda semelhança com outras obras do compositor: para começar, as interpretações mais sutis do tema principal poderiam ter saído diretamente das trilhas do músico para a série Lost. A nona faixa é um bom exemplo disso. Além disso, em especial a partir de Close Encounters of the Furred Kind (por que os títulos de Giacchino para seus cues sempre tem que ser tão engraçadinhos?), nós temos diversos momentos de suspense que trazem lembranças ruins dos momentos mais chatos das já citadas Super 8 e Deixe-Me Entrar, além da própria Lost. Porém, é nas faixas de ação que Giacchino não demonstra a segurança de outrora, e, apesar de, isoladamente, serem boas (principalmente Gorilla Warfare e Enough Monkeying Around), não podemos deixar de notar estranhas derivações de trilhas do próprio Goldsmith e de Don Davis, em especial os scores da trilogia Matrix. Observe a forma como Giacchino usa sua orquestra, e veremos que os Irmãos Wachowski até que tiveram razão ao contratar o ítalo-americano para seu novo filme.

Giacchino, entretanto, compensa esses problemas com uma novidade: um tema para as faixas de ação, que, pelo visto, representa o conflito entre macacos e humanos. Ele aparece inicialmente na quinta faixa, a cargo dos metais, e retorna seja de maneira mais sutil (mas não menos ameaçadora) em Monkey to the City, seja como base para as faixas de ação, como as citadas Monkey See, Monkey Coup e Enough Monkeying Around. Ele também retorna em um trecho dos créditos finais. Vale também a menção a um motivo sinistro para o coral, que aparece em Look Who’s Stalking e The Lost City of Chimpanzee. Ele flerta com scores de horror e lembra a recente trilha de Godzilla, Alexandre de Desplat.

Enfim, esta trilha de Giacchino é mais uma entrada sua em uma franquia famosa e querida, e ele se sai relativamente bem. Mesmo assim, não podemos deixar de notar que ele vem repetindo alguns problemas, o que atrapalha um pouco a audição. Torçamos para que essa tendência não se perpetue, e que este ótimo compositor continue a nos surpreender.

Faixas:

1. Level Plaguing Field (02:21)
2. Look Who’s Stalking (02:35)
3. The Great Ape Processional (04:34)
4. Past Their Primates (01:57)
5. Close Encounters Of The Furred Kind (04:38)
6. Monkey To The City (01:16)
7. The Lost City Of Chimpanzee (03:46)
8. Along Simian Lines (05:04)
9. Caesar No Evil, Hear No Evil (02:27)
10. Monkey See, Monkey Coup (05:12)
11. Gorilla Warfare (07:37)
12. The Apes Of Wrath (04:28)
13. Gibbon Take (02:55)
14. Aped Crusaders (03:26)
15. How Bonobo Can You Go (05:42)
16. Enough Monkeying Around (03:35)
17. Primates For Life (05:42)
18. Planet Of The End Credits (08:56)
19. Ain’t That A Stinger (01:10)

Duração: 77:21

Tiago Rangel

16 comentários sobre “Resenha: DAWN OF THE PLANET OF THE APES – Michael Giacchino (Trilha Sonora)

  1. “Close Encounters of the Furred Kind (por que os títulos de Giacchino para seus cues sempre tem que ser tão engraçadinhos?)”

    Hahahahahaha

    Eu adoro a nomeação dos cues que o Giacchino dá (The Incredits, End Credits and Suck It, End Creditouilles, Planet of The End Credits). Eu acho que eles são engraçados por que ele nos faz recordar que, musica para filmes, além de ser pura técnica, é tambem diversão.

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  2. ” Ele flerta com scores de horror e lembra a recente trilha de Godzilla, Alexandre de Desplat.”

    Não sabia que Desplat tinha se tornado um lord XD

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    • kkkkkkkk Leandro na “zueira” hoje ^ ^

      Comentando de forma sucinta – até porque depois de uma resenha do Tiago Rangel tudo ja foi dito kkk – Percebe-se como é uma trilha poderosa, que tem um papel importante no filme. Estou muito ansioso pra assistir. (Achei esse tema de ação de ação, citado pelo Tiago, muito interessante).

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  3. ” Acompanharam todos esses filmes scores que não se igualavam ao de Goldsmith,”

    Interessante observar que, Jerry Goldsmith fora contratado para fazer Beneath of the Planet of the Apes. Entretanto, devido à uma intervenção feita pelo Franklin J. Schaffner, Goldsmith caiu fora deste projeto, para fazer o score de Patton.

    Ele retornou em Escape from the Planet of the Apes, e mesmo que ele tenha criado um main title bem interessante, o próprio filme não deu muito material pro Jerry trabalhar. Em outras palavras, era um filme desprovido da criatividade presente no primeiro. Embora seja um bom score, é abaixo dos padrões de Goldsmith, ou seja, nem o próprio conseguiu se igualar.

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