A lenda cinematográfico-musical de Simbad, o Marujo
Extraídas do anônimo relato oriental das “Mil e Uma Noites”, as aventuras do marinheiro Simbad há décadas são de interesse do cinema. Assim, nosso marujo aventureiro estreou na tela grande em 1936, em um desenho animado dirigido por George Pal – que posteriormente seria o insigne produtor de, por exemplo, a primeira versão de The Time Machine (A Máquina do Tempo). Curiosamente, este filme animado foi realizado na Holanda e representou o primeiro passo de Pal desde a publicidade até o cinema de ficção, onde realizaria uma exitosa carreira como diretor e produtor.
Um pouco mais tarde chegaria a primeira versão em carne e osso de Simbad, na interpretação do ator e acrobata Douglas Fairbanks Jr., no filme Sinbad, the Sailor (Simbad, o Marujo, 1947) dirigido por Richard Wallace, um prodígio para a época que deslumbrou a audiência. Sua trilha sonora original esteve a cargo do hábil Roy Webb, e uma suíte deste score pode ser encontrada somente na compilação da Cloud Nine Records The Film Music of Roy Webb (CNS 5008).
De qualquer modo, seria apenas em 1958, ano do lançamento de The 7th Voyage Of Sinbad (Simbad e a Princesa, 1958), de Nathan Juran, que as aventuras do personagem encontrariam sua melhor expressão graças aos efeitos especiais do gênio da animação stop motion Ray Harryhausen, que recriou a galeria de monstros e seres mitológicos que Simbad deve combater. A partitura do filme foi confiada a Bernard Herrmann, mestre da música cinematográfica que continuou com este trabalho uma série de inesquecíveis criações para o cinema fantástico, que incluem, entre outras, The Day the Earth Stood Still (O Dia em que a Terra Parou) e Mysterious Island (A Ilha Misteriosa), com um estilo que o afasta dos seus trabalhos para o “Mestre do Suspense” Sir Alfred Hitchcock. Como registro desta trilha sonora podemos encontrar, pelo selo especializado Varèse Sarabande, tanto sua versão original (VCD 47256) como uma regravação feita nos anos 1990 – decente em sua execução – com John Debney à frente da Royal Scottish National Orchestra (VSD 5961).
Simbad não voltaria ao cinema até 1973, ano em que Gordon Hessler realizou The Golden Voyage Of Sinbad (A Nova Viagem de Simbad), filme que também contaria com os efeitos especiais de Ray Harryhausen. A música desta nova aventura ficou a cargo de outro compositor lendário, Miklos Rozsa, aquele que conquistara as telas com seus scores para filmes épico-históricos como Quo Vadis, Ben Hur, El Cid e King Of Kings (Rei dos Reis). Definitivamente esta música fez de The Golden Voyage Of Sinbad um filme memorável. Para quem estiver interessado em adquiri-la, seu lançamento em CD ocorreu pelo selo belga Prometheus, primeiro em 1998 (PCD 148, trazendo a gravação em estéreo do LP) e posteriormente em 2008 (edição dupla contendo a gravação original completa do score, em mono).
Passariam apenas quatro anos para a volta do marujo ao cinema. Devido ao êxito obtido por The Golden Voyage, Harryhausen decidiu viajar mais uma vez com Simbad, desta vez tendo na direção o experiente ator Sam Wanamaker, em Sinbad And The Eye Of The Tiger (Simbad Contra o Olho do Tigre, 1977). A música que acompanhou este filme foi composta por um jovem talento – que lamentavelmente faleceria pouco tempo depois – Roy Budd, também autor de The Wild Geese (Os Selvagens Cães de Guerra) e de Get Carter. O CD com a partitura desta derradeira aventura stop-motion de Simbad foi lançado pela Cinephile, com o código CINCD 005.
Finalizamos as viagens do lendário marujo com o longa de animação Sinbad: Legend Of The Seven Seas (Simbad: A Lenda dos Sete Mares), uma produção da empresa Dreamworks, sob a direção dos experimentados Tim Johnson e Patrick Gilmore. Foi contratado para compor este score o então “Mediaventure” Harry Gregson Williams, que realizou um interessante trabalho, resgatando o espírito épico, romântico e aventureiro típico deste tipo de história, com um motivo principal realmente heroico que colabora de maneira decisiva com a realização. O álbum de Sinbad: Legend Of The Seven Seas, foi lançado pela DreamWorks Records, com a referência B0000 73302.
Com quase oitenta anos de vida cinematográfica, Simbad continua mais vivo do que nunca e podemos confiar que nos reencontraremos com ele, algum dia, na tela grande. Será um grande prazer, sobretudo se ele estiver acompanhado por grandes compositores como os já mencionados.
Jorge Luis Viera
Considero a partitura do Sinbad de 2003 um dos melhores trabalhos de Harry Gregson-Williams, juntamente com Cruzada e os dois As Crônicas de Nárnia em que ele trabalhou. Se ele tivesse seguido nessa linha mais orquestral e aventureira, hoje poderia ter lançado trabalhos muito mais memoráveis.
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