Resenha: WINTER’S TALE – Hans Zimmer, Rupert Gregson-Williams (Trilha Sonora)


winterCDMúsica de Hans Zimmer e Rupert Gregson-Williams
SeloWaterTower Music
Catálogo: 39501
Lançamento: 11/02/2014
Cotação: ***½

Digam o que quiserem de Hans Zimmer, mas o fato é que ele tem vivido uma fase prolífica e variada. Desde o ano passado, ele tem lançado trilhas que, de tão diferentes entre si, poderiam ter vindo de outros compositores: sua abordagem padrão de um blockbuster em O Homem de Aço, sua trilha orquestral e colorida para O Cavaleiro Solitário, o rock setentista de Rush e a melancolia de 12 Anos de Escravidão. Para Um Conto do Destino (Winter’s Tale), composto em parceria com Rupert Gregson-Williams (conhecido por seus scores para comédias), ele nos entrega uma partitura primariamente orquestral com grandes ambições dramáticas, além de uma sobre-utilização da seção de cordas.

Ao escutar o score de Um Conto do Destino, fica difícil dizer que se trata do mesmo compositor de O Homem de Aço ou de A Origem, por exemplo. Em primeiro lugar, enquanto estas trilhas utilizam muita instrumentação eletrônica, como guitarras e sintetizadores (algo comum na filmografia de Zimmer), para seu mais novo trabalho, quase não se nota a presença de eletrônicos. Ao contrário, esta é uma trilha à moda antiga, que tenta remeter aos mais tradicionais scores românticos, no melhor estilo de John Barry, por exemplo. E, se isto oferece um curioso contraponto com as obras mais famosas do alemão, também expõe algumas das fragilidades da trilha – que acaba remetendo demais ao trabalho de James Newton Howard em Água para Elefantes (perceba a forma como tanto Zimmer quanto Howard utilizam o piano e as cordas) quanto de Alexandre Desplat em scores como Lua Nova e O Curioso Caso de Benjamin Button. Na verdade, Um Conto do Destino é uma trilha tão diferente das últimas obras de Zimmer que, se fôssemos estabelecer um paralelo com outros scores do alemão, poderíamos dizer que ela lembra de longe obras como Pearl Harbor e A Casa dos Espíritos – um de seus trabalhos mais desconhecidos e subestimados.

Afinal, se esta é uma obra tão distinta de Zimmer, podemos dizer que isto se deve à participação de Gregson-Williams? Talvez não, afinal, o irmão mais novo e menos conhecido de Harry também não deve a sua fama a trilhas dramáticas. Na verdade, para Um Conto do Destino, é quase impossível identificar quem compôs o quê, afinal, não há nenhuma menção a nenhuma característica marcante da dupla. É diferente, por exemplo, das trilhas para a série Kung Fu Panda ou Batman, onde era mais fácil distinguir as características de Zimmer e de seus co-compositores – respectivamente, John Powell e James Newton Howard.

Porém, a verdade é que não importa muito se Zimmer compôs sozinho ou com alguém, afinal, o próprio alemão já deixou claro que seu processo de compor é colaborativo. A música deve ser julgada pelas suas qualidades e defeitos. Dessa forma, o que podemos dizer dessa partitura? Bem, para começar, o fato é que se trata de uma obra dramática, que tenta a todo custo comover o ouvinte – infelizmente, nem sempre conseguindo. Além disso, fora alguns motivos recorrentes, não há de fato um tema forte para conduzir a música, de modo que se torna difícil lembrar algo dela depois que o álbum termina.

Porém, o álbum possui alguns rompantes de beleza e magia. A primeira faixa, “Look Closely”, é a melhor, com sua melodia nostálgica e evocativa a cargo do piano e das cordas, com sutil participação dos metais. Também há outros belíssimos momentos em faixas como “What’s the Best Thing You’ve Ever Stolen”, “Princess Bed” e “Can You Hear your Heart”. Na verdade, o álbum acerta quando justamente aposta no drama e no romance e, nesse sentido, ele peca ao fugir desse clima, com melodias de suspense pouco inspiradas em faixas como “It’s the Ripples That Give the Work Meaning” e o início de “Becoming Stars”. Apesar disso, podemos ter como destaque positivo a construção de “I Love Blood on the Snow”, que inicia de forma ameaçadora para tornar-se grandiosa em seguida e finalizar de maneira romântica.

A primeira metade do álbum é certamente a melhor e mais coesa. A partir da segunda metade, as melodias criadas por Zimmer e Gregson-Williams já não funcionam tão bem – e não ajuda em nada o fato de o ouvinte já ter ficado imune às tentativas da dupla de emocioná-lo. Mesmo assim, ainda temos bons momentos, como a longa e atmosférica “Light as a Feather” e a belíssima “She Was Like a Bright Light”, uma das melhores do disco.

De qualquer forma, a trilha de Um Conto do Destino prova que o talento de Zimmer vai além de seus famosos scores para blockbusters hollywoodianos. Sim, de fato a música de seu novo álbum poderia ter sido melhor trabalhada, porém, é inegável que o alemão conseguiu criar um trabalho distinto em sua carreira. E, se ele precisar da companhia de outro compositor para isso, tanto melhor.

Faixas:

1. Look Closely 6:08
2. It’s The Ripples That Give The Work Meaning 2:29
3. Rise Up 2:04
4. Hello You Beauty 2:32
5. What’s The Best Thing You’ve Ever Stolen 1:42
6. I Love Blood On The Snow 6:42
7. Princess Bed 2:19
8. Can You Hear Your Heart 4:14
9. This Isn’t Right 4:00
10. You Don’t Quit Me, Boy 3:46
11. Light As A Feather 7:41
12. She Was Like A Bright Light 1:35
13. The Girl With The Red Hair 4:04
14. Becoming Stars 10:06
15. Miracle (KT Tunstall) 4:32

Duração: 63:54

Tiago Rangel

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4 comentários sobre “Resenha: WINTER’S TALE – Hans Zimmer, Rupert Gregson-Williams (Trilha Sonora)

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