Resenha: JACK RYAN – SHADOW RECRUIT – Patrick Doyle (Trilha Sonora)


Jack_ryan_302067242Música composta por Patrick Doyle
Selo: Varese Sarabande
Catálogo: 302 067 242 8
Lançamento: 04/02/2014
Cotação: ***

No passado, a música para filmes de espionagem contava com nomes como John Barry em marcantes melodias orquestrais. Porém, a partir do século XXI, esse gênero da música de cinema passou a contar com uma mistura de sintetizadores e orquestra, em melodias tensas e nada heroicas, principalmente a partir de trabalhos de compositores como David Arnold e John Powell. Este último, com seus scores para a trilogia Bourne, impactou até mesmo compositores experientes, como Alan Silvestri e James Newton Howard – que acabaram por realizar trabalhos fracos, sem a originalidade de Powell.

A mais recente “vítima” do estilo de Powell é Patrick Doyle. Um ótimo compositor conhecido por suas melodias épicas e grandiosas, sempre a cargo da lendária London Symphony Orchestra, ele nos últimos tempos tem entregado obras no máximo, razoáveis, como Thor, Planeta dos Macacos – A Origem e Valente. Para o novo longa de seu colaborador habitual Kenneth Branagh, o thriller de espionagem Operação Sombra – Jack Ryan, Doyle foi novamente convocado, apesar de seu estilo mais clássico e orquestral em nada combinar com o estilo atual de música para esse tipo de filme.

É natural e louvável um compositor querer buscar novos desafios e estilos de filmes diferentes para compor. Nomes como James Horner, John Williams e James Newton Howard possuem bons trabalhos em diversos gêneros de filmes. Por outro lado, um compositor, acostumado a determinado gênero, corre o perigo de seu estilo não se encaixar no longa. Por exemplo, alguém aqui imagina Brian Tyler compondo para um típico drama de Oscar, como 12 Anos de Escravidão? Ou Thomas Newman em um épico como O Senhor dos Anéis? Pode até ser que eles fizessem um bom trabalho (afinal, ninguém esperava que Howard Shore fizesse um trabalho tão brilhante na própria Trilogia do Anel), porém isso seria uma surpresa, dado o estilo dos dois compositores.

O mesmo aconteceu com Patrick Doyle em seu novo filme. Com seu estilo não combinando com a música de espionagem atual, ele decidiu empregar aquilo que já havia sido utilizado em outros filmes do gênero: muito acompanhamento eletrônico juntamente com arpejos tensos a cargo das cordas, com pouquíssimo uso dos metais (ou de outra seção da orquestra). Na realidade, a imensa maioria das faixas do álbum são nesse estilo, o que acaba por cansar o ouvinte. A chata orquestração utilizada e a falta de diversidade das faixas tornam a audição do álbum uma experiência quase torturante.

É ainda mais triste saber que Doyle, mais uma vez, desperdiçou uma das maiores orquestras do mundo, a London Symphony Orchestra, especializada em obras ricas e complexas (nem precisamos voltar aos tempos de Star Wars e Caçadores da Arca Perdida, basta ouvir o ótimo trabalho de Alexandre Desplat em A Origem dos Guardiões para constatar a força da orquestra). Aqui, ela é subutilizada em melodias sem variação nem originalidade, porém sempre com acompanhamento eletrônico.

Felizmente, há exceções. A bela faixa “Faith of Our Fathers” traz um ótimo tema para o coral, com uma boa integração entre este e a orquestra. Também é válido citar como ponto positivo do álbum “Ryan, Mr. President”, que possui uma melodia nobre e traz um encerramento épico para o filme. Lembra um pouco o trabalho de Doyle na brilhante trilha de Hamlet, um de seus melhores trabalhos. Nesta faixa, finalmente, podemos constatar o poder da LSO e de como Doyle é capaz de compor temas grandiosos.

No geral, a trilha de Operação Sombra – Jack Ryan vale apenas por essas duas faixas. Quanto as outras, bem, basta dizer que Powell e Arnold já fizeram melhor em A Supremacia Bourne e Cassino Royale, respectivamente. Definitivamente, Patrick Doyle não combina com o gênero espionagem. Felizmente, ele possui no horizonte a trilha do conto de fadas live action Cinderella, que será dirigido por Branagh e lançado em 2015. Vamos torcer para que, neste novo filme, Doyle possa nos mostrar, mais uma vez, o excelente compositor que é.

Faixas:

1. Flying Over Afghanistan (02:43)
2. The United Nations (02:42)
3. Shadow Accounts (02:54)
4. The Window Reflection (01:51)
5. Rooftop Call (01:52)
6. Second Great Depression (03:19)
7. Faith Of Our Fathers (04:00)
8. Cheverin Meets Ryan (02:11)
9. Plan In A Van (01:51)
10. The Activation (02:19)
11. Aleksandr (01:54)
12. The Engagement (02:24)
13. Stealing The Data (07:59)
14. Get Out (04:19)
15. Moscow Car Chase (04:15)
16. The Lightbulb (04:37)
17. Unravelling The Data (04:37)
18. CIA Recruitment (01:41)
19. Chopper To NYC (01:40)
20. Bike Chase (03:47)
21. Jack And Aleksandr (03:15)
22. Picking This Life (01:04)
23. Ryan, Mr. President (03:28)
24. Shadow Recruit (02:30)

Duração: 73:12

Tiago Rangel

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7 comentários sobre “Resenha: JACK RYAN – SHADOW RECRUIT – Patrick Doyle (Trilha Sonora)

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  2. E aproveitando a deixa para quem quiser curtir este universo da saga Jack Ryan, foi lançado pela Intrada uma edição completa da trilha sonora do filme CAÇADA AO OUTUBRO VERMELHO (The Hunt for Red October) de Basil Poledouris e as versões estendidas para os filmes com Harrison Ford com scores conduzidos por James Horner, todos excelentes.
    Agora só falta a versão estendida de Jerry Goldsmith para The Sum of All Fears (A Soma de Todos os Medos) link da música http://www.youtube.com/watch?v=_7unFAPsG14
    link abaixos:
    http://store.intrada.com/s.nl/it.A/id.8286/.f
    http://store.intrada.com/s.nl/it.A/id.8098/.f
    http://store.intrada.com/s.nl/it.A/id.8204/.f

    Sobre a trilha de Patrick Doyle fiquei tenso com o comentário acima, assim sendo vou ouvir com calma para depois fazer alguma análise se tiver algo novo, afinal de contas nosso amigo Tiago Rangel deixou bastante claro o caminho que esta trilha levou, abraços.

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