Resenha: SKYFALL – Thomas Newman (Trilha Sonora)


Música composta por Thomas Newman
Selo: Sony Classics
Catálogo: 88765410402
Lançamento: 06/11/2012
Cotação: star_4

Quando se pensa na música dos filmes de 007, imediatamente nos vêm à mente nomes como Monty Norman, John Barry, David Arnold, ou até mesmo a dobradinha de Com 007 Viva e Deixe Morrer, Paul McCartney (canção) e George Martin (score). Entretanto, um compositor que provavelmente não nos ocorresse seria Thomas Newman. Oriundo de uma família de importantes músicos do cinema, ele é conhecido por suas trilhas líricas, atmosféricas e sofisticadas para filmes como Um Sonho de Liberdade, À Espera de Um Milagre, Procurando Nemo e Desventuras em Série. Ou seja, analisando a carreira de Newman, pode-se dizer que ele não seria a primeira opção para um filme de ação de grande orçamento.

Entretanto, graças à amizade do músico com o diretor Sam Mendes, Newman foi o encarregado de substituir David Arnold na franquia do famoso agente secreto britânico. Ainda assim, 007 – Operação Skyfall não é o típico filme com que o compositor costuma trabalhar e, no início, muitos desconfiaram da escolha. Felizmente, Thomas Newman conseguiu superar essa desconfiança, e compôs uma trilha que alterna com talento tons enérgicos e outros mais sutis. Certamente, ele se saiu melhor do que James Newton Howard (mais experiente em longas de ação do que Newman) em sua partitura para O Legado Bourne, concorrente de Skyfall entre os filmes de espiões desse ano.

Apesar de fitas de ação não serem recorrentes na carreira de Newman, nesse álbum encontramos algumas características típicas do compositor, como o grande número de faixas (trinta, nesse caso em específico), boa parte delas de curta duração, ao invés de longas suítes. Além disso, o estilo recorrente do músico pode ser percebido mais claramente em “Close Shave”, cuja melodia lembra Beleza Americana; e “Severine”, uma faixa romântica conduzida principalmente pelas cordas. Aliás, essa última é um caso interessante, que resume bem Skyfall: além de ser uma típica composição de Newman, também nos remete aos filmes de 007, com suas paixões e viagens exóticas por todo o mundo. Ou seja, algo que parecia impossível, como a fusão do estilo do compositor com as tradições musicais do agente, surpreendentemente se torna realidade nesta trilha.

Mesmo assim, algumas influências que Newman pode ter utilizado ficam evidentes ao se escutar o álbum. Por exemplo, faixas como “Voluntary Retirement”, “Jellyfish”, “Tennyson” e “She’s Mine” lembram os scores de Hans Zimmer para os filmes de Christopher Nolan, como a trilogia Batman e A Origem. Estão lá a interpretação forte e marcante dos metais, em especial das trompas (na primeira), e os acompanhamentos de ritmos rápidos a cargo das cordas, com a melodia principal executada por cellos, baixos e os instrumentos de sopro (na segunda e na última). Além disso, algumas faixas de ação, como “Grand Bazaar, Istambul”, parecem ter se inspirado nos trabalhos de John Powell na trilogia Bourne. De certa forma, isso espelha as influências do próprio filme, afinal, a nova fase do agente secreto tomou como referência a série estrelada por Matt Damon, enquanto Sam Mendes já declarou ter utilizado os longas de Christopher Nolan como fonte de inspiração.

Outro ponto que merece destaque é a utilização de instrumentação eletrônica em meio a orquestra. Guitarras, sintetizadores e violinos elétricos possuem grande presença nesse score, em especial em faixas predominantemente eletrônicas, como “Adrenaline”. Flautas étnicas também possuem bastante destaque, como visto em “Enjoying Death”, por exemplo. Porém, longe de tal utilização comprometer a partitura (como na infame Goldeneye), aqui os instrumentos e ritmos mais eletrônicos e “roqueiros” estão plenamente integrados à orquestra sinfônica. As trilhas de Newman sempre possuíram uma orquestração detalhista, e aqui não é diferente. Méritos não só para o compositor, como também para o orquestrador J.A.C. Redford, colaborador habitual de James Horner, e que aqui realiza um belo trabalho.

Um ponto de conflito que pode ser encontrado entre os estilos de Newman e dos filmes de Bond é na falta de um tema marcante para esse longa. Os scores para os longas da série 007, em sua maioria, possuíam um motivo principal, seja esse o tradicional do personagem, composto por Monty Norman, seja ele a música-tema. Newman, entretanto, é um músico de estilo mais minimalista, cujas abordagens nem sempre são convencionais. Assim, em Skyfall, apesar de alguns motivos recorrentes, não temos nenhum tema memorável, o que certamente irá desagradar aos puristas. Tanto é que nem a canção principal do filme, interpretada por Adele, está no álbum (embora uma interpretação orquestral possa ser ouvida em “Komodo Dragon”). Apesar disso, o compositor não deixou de respeitar o estilo musical da série, e o tema de James Bond faz diversas aparições ao longo do álbum, em especial na faixa “Breadcrumbs”, que possui a interpretação mais completa da icônica melodia nesse score.

E, mesmo com o predomínio das características musicais típicas de Newman ao longo da trilha, o compositor não deixa de surpreender com trechos e motivos incomuns em sua discografia. Alguns exemplos disso são as próprias faixas de ação, bastante enérgicas e poderosas, como “Granborough Road”, a já citada “Grand Bazaar, Istambul” e, em especial, a excelente “The Bloody Shot”. Já outras como “Voluntary Retirement” e “Kill Them First” possuem melodias grandiosas, bastante diferentes do estilo mais sutil de Newman.

O score de Skyfall, dessa forma, atinge um bom equilíbrio entre o estilo do compositor e o do personagem. Unindo essas duas características, ele contribuiu para a tradição musical de James Bond, que, como o próprio agente, precisa sempre evoluir seu próprio estilo, a fim de evitar a estagnação, mas sem fugir de sua própria identidade. Dessa forma, podemos dizer que Newman cumpriu essa missão com a eficácia típica de 007.

Faixas:

1.   Grand Bazaar, Istanbul
2.   Voluntary Retirement
3.   New Digs
4.   Severine
5.   Brave New World
6.   Shanghai Drive
7.   Jellyfish
8.   Silhouette
9.   Modigliani
10.   Day Wasted
11.   Quartermaster
12.   Someone Usually Dies
13.   Komodo Dragon
14.   The Bloody Shot
15.   Enjoying Death
16.   The Chimera
17.   Close Shave
18.   Health And Safety
19.   Granborough Road
20.   Tennyson
21.   Enquiry
22.   Breadcrumbs
23.   Skyfall
24.   Kill Them First
25.   Welcome To Scotland
26.   She’s Mine
27.   The Moors
28.   Deep Water
29.   Mother
30.   Adrenaline

Duração: 77:00

Rangel, Tiago Rangel

24 comentários sobre “Resenha: SKYFALL – Thomas Newman (Trilha Sonora)

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  2. Este texto claro, limpo e muito bem escrito, deixa-nos certamente uma vontade de viajar nas cenas do filme e em sua trilha musical. Parabéns ao resenhista e que continue nos estimulando a curtir a música no cinema…

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  3. Newman está longe de ser Barry, mas faz um bom trabalho aqui. Da metade para o fim, a música se torna techno demais…Acho que nunca mais teremos trilhas fenomenais de outrora.

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  18. Um dia escutarei, pois fico com receio por não conhecer a metade das trilhas que foram feitas para os filmes, os trabalhos do Barry ou do Arnold. Aí fico com uma mágoa boba, pensando que estou sendo injusta com eles. :) A única que escutei foi a do Norman por dizerem que existia uma disputa entre ele e o John Barry sobre quem compôs o tema principal. Continuo sem saber.

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